A microfísica dos... -
Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
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n
. 22,
p
.79-94
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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Exclamações, indagações e declarações como essas, feitas
por diferentes pessoas, continuam a ser ouvidas com frequência
no nosso dia a dia. Há, no imaginário social, a convicção de
que educar é sinônimo de disciplinar. Mesmo entre educadores,
a disciplina é um dos principais temas nas falas e fazeres
cotidianos. Assim, por se tratar de matéria tão presente, é
impossível uma compreensão mais apurada da educação e da
escola de nossos dias sem uma tentativa de analisar o problema
em maior profundidade. É preciso que se entenda a origem de
tal ânsia disciplinar (como se constituiu a ideia de que a escola
tem missão eminentemente disciplinar?) e que nos perguntemos,
ainda, pelos novos contornos que a questão apresenta na
contemporaneidade (a escola do nosso tempo cumpre, ainda,
o mesmo papel que desempenhou em séculos anteriores?). O
presente artigo, portanto, é uma tentativa de contribuir com esse
esforço. Buscamos, amparados na perspectiva aberta por Michel
Foucault, somar elementos que nos permitam enxergar mais
claramente a história e o presente dos processos de subjetivação
engendrados pela instituição escolar.
Afirmar o papel decisivo operado pela instituição escolar
na construção da subjetividade dispensa justificativas muito
elaboradas, haja vista ser nossa identidade constituída a partir dos
processos culturais que nos envolvem. Cabe salientar que essas
práticas, concebidas como modo de agir e de pensar, são a chave
de inteligibilidade para a constituição correlativa do sujeito. Entre
as práticas ou processos culturais, as que envolvem relações de
poder – principalmente as relacionadas ao poder disciplinar – são
as cruciais para compreender como nos tornamos sujeitos.
Ao analisar a escola sob a perspectiva foucaultiana, é
importante levar em consideração a diferenciação entre o
exercício de violência e as relações de poder. O exercício de
violência difere das relações de poder, pois enquanto o primeiro
faz uso da agressão, seja física, econômica ou de qualquer
outro tipo, as últimas utilizam-se de saberes. As instituições
escolares, enquanto
loci
de práticas pedagógicas, operam com
os saberes, são da ordem da disciplina, do poder disciplinar,
funcionando, como já apontava Rajchman (1987), como técnicas
que constituem uma estratégia para dividir as pessoas em
grupos disciplinados, individualizados, controláveis. Assim, a