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A microfísica dos... -
Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
C
adernos
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ensamento
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ducacional
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uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.79-94
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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Foucault constata que a articulação poder-saber, nos séculos
XVII e XVIII, permite um controle minucioso sobre os corpos dos
indivíduos, com o intuito de produzir corpos dóceis e úteis para o
corpo social. Nesta perspectiva, a escola passa a ser um ambiente
de submissão, dominação e controle, ou seja, uma estratégia para
documentar individualidades. É notório o fato queos processos
disciplinares são anteriores a esse período; nessa fase específica,
porém, as disciplinas atuam como verdadeiras estratégias de
dominação, conforme ilustrado na Figura 1. Para Foucault (1987,
p.119), esse período da modernidade merece atenção especial por
ser “o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa
não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco
aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no
mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil,
e inversamente.”
Forma-se, nesse período, como que uma anatomia política sobre
o corpo, uma análise minuciosa, que estuda as formas, as estruturas
e as relações do corpo-objeto e atua como mecanismo de poder. Tal
regulação, porém, não chega a ser completamente nova:já opera,
há muito tempo, nas mais diversas instituições disciplinares, como
escolas militares, conventos, asilos etc.O que Foucault pretende,
portanto, é identificar certas técnicas essenciais das diversas
instituições disciplinares que, de algum modo, se generalizaram.
Para ele, essas técnicas são “sempre minuciosas, muitas vezes
íntimas, mas [...] definem um certo modo de investimento político e
detalhado do corpo, uma nova ‘microfísica do poder’.” (FOUCAULT,
1987, p.120).
Ao investigar os regulamentos das instituições disciplinares,
Foucault atenta para o controle de cada pequeno detalhe, que levará
a um conjunto de informações e relações de poder e de saber, por
meio dos quais, sem dúvida, constituiu-se o homem moderno. A
escola faz parte de uma rede produtiva que age sobre o corpo social,
não somente enquanto poder repressivo, mas, principalmente, como
um dispositivo de produção de subjetividade, que diz respeito ao
contexto disciplinar que ocorre tanto na sala de aula como para além
dela, afetando o processo de constituição do próprio sujeito. O poder,
portanto, não tem unicamente a função repressora. De acordo com
Foucault (1982a, p.148), “se agisse apenas por meio da censura, da
exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de um grande