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A microfísica dos... -
Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
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. 9,
n
. 22,
p
.79-94
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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ciborgues que articulam o que há de mais antigo e arcaico com o
que existe de mais moderno” (LAZZARATO, 2006, p.105).Assim,
pode-se concluir que “o sujeito ideal do neoliberalismo é aquele que
é capaz de participar competindo livremente e que é suficientemente
competente para competir melhor fazendo suas próprias escolhas e
aquisições.” (VEIGA-NETO, 2000, p.199-200).
Assim, frente à nova tecnologia de governo, presente na
sociedade atual, a escola é compelida, enquanto máquina de
governamentalidade, a estar cada vez mais preocupada em formar
sujeitos autônomos, sujeitos que saibam conduzir a si mesmos. Em
suma, a escola atua como uma maquinaria encarregada de preparar
competências que orientem os futuros sujeitos-clientes a atuarem
num mundo marcado pelo mercado e pela extrema competição.
Ainda que Bauman (1999, p.66) entenda o mundo globalizado como
uma “nova desordem mundial”, uma vez que “ninguém parece estar
no controle agora”, não se pode daí concluir que a escola se tenha
despido dos mecanismos de controle; ao contrário, cada vez mais se
desloca de uma lógica disciplinar para uma lógica de controle. Ao que
parece, esse controle permanente “funciona como um agenciamento
coletivo cujos resultados, num futuro próximo, podem ser sombrios.”
(VEIGA-NETO, 2000, p. 209).
Talvez exatamente pelo motivo de as sociedades de controle
serem nulas em singularidades (LAZZARATO, 2006, p.100), temos
a sensação de que, sendo tudo possível, nada mais há a ser feito;
e essa desagradável sensação de impotência acaba abarcando as
diferentes instituições da sociedade, entre elas a escola, causando
uma sensação de crise
7
entre o esperado e o alcançado. A escola atua
como instituição disciplinadora a serviço da sociedade, tanto no plano
individual (sujeito) quanto no coletivo (ordem social), e essa sensação
de crise cotidiana relaciona-seao suposto descompasso entre a
escola e a sociedade atual, uma vez que o mundo globalizado anda
num ritmo acelerado enquanto a escola parece continuarinalterada.
A escola é a mesma, os conteúdos são os mesmos, no entanto,
em diferentes momentos históricos, há diferentes formas de
governamento das crianças numa instituição que preserva sua
funcionalidade social. Assim, mais do que nunca, a chamada “crise
da educação” está associada à necessidade de reconfiguração da
7 Para uma abordagem a respeito da sensação de crise da escola, ver Oliveira & Valeirão
(2013).