Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 97

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Educação, filosofia... -
Belkis S. Bandeira e Neiva A. Oliveira
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.95-108
maio
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. 2014.
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interpessoais hodiernas, não é potencialmente real, mas o próprio real. As
novas formas de relacionar-se como outro, mediadas pela tecnologia, não
devemser compreendidas apenas como uma característica idiossincrática
de adolescentes e/ou adultos jovens, mas sim como manifestação de
uma espécie de Zeitgeist
6
, ou seja, de uma cultura que produz indivíduos
solitariamente “conectados”, por meio do maquinário tecnológico que
realiza a comunicação on line. É certo que as tecnologias possuemmuitas
possibilidades no sentido de romper distâncias espaciais e temporais e,
assim, tambémcustos, nos processos de comunicação, mas isto não deve
ser confundido com relações humanas fruto de convívio e experiências
partilhadas em situações concretas.
As possibilidades de comunicação oriundas do olhar e das
expressões corporais ficam extirpadas de antemão nestes novos
espaços de vivências, substituídos por “clics” e pressionar de
teclas. No complexo aparato sensorial humano, as sensações se
intercambiam na produção de sentidos, com um olhar, um cheiro ou
som peculiar, cada momento pode ser percebido como uma vivência
única. O ego produz no interior de cada indivíduo a vinculação destas
experiências sensoriais, de modo que possam representar qualidades
para além de serem visuais, auditivas ou táteis, mas possibilita que
estes processos perceptivos possam ter a qualidade de conhecimento,
não apenas como reações sensoriais, mas internalizados enquanto
representações de experiências.
Nos espaços de convívio somente mediados pelas tecnologias,
as possibilidades perceptivas são danificadas, uma vez que cada um
dos sentidos é visto de forma ergonômica, privado da relação com os
outros sentidos. Assim, as sensações isoladas, por mais que sejam
estimuladas, perdem a profundidade que lhes permitiria, associadas
a outras sensações, transformarem-se em experiências duradouras,
como conhecimento amalgamado em significados que vão sendo
internalizados ao longo da existência.
Retomando o significado de virtual, pode-se dizer que essas
sensações podem ser percebidas como reais, mas de fato são
substitutivas de uma experiência concreta que está sendo espoliada,
e com ela, a própria percepção do humano, reduzida a determinados
estímulos audiovisuais, dificultando, assim, a capacidade de
transformar a percepção em experiência.
6 É um termo alemão que significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos.
Pode ser entendido como conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa
época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.
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