Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 102

Educação, filosofia... -
Belkis S. Bandeira e Neiva A. Oliveira
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. 2014.
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Para lá da aporia do belo natural, menciona-se aqui a
aporia da estética no seu conjunto. O seu objecto define-
se como indeterminável, negativamente. Por isso, a arte
necessita da filosofia, que a interprete, para dizer o que ela
não consegue dizer, enquanto que, porém, só pela arte
pode ser dito, ao não dizê-lo. (ADORNO, 1993, p.89)
Assim, embora ambas visem algo que não pode ser exposto
nelas próprias, enquanto “vestígios do não-idêntico”, a aproximação
entre coisa e expressão na investigação filosófica, rege a atividade
da filosofia e a distingue da arte, o que permite a Adorno concluir
que é pela sua contraposição que se mantém leal a si própria. Se no
Prefácio da Dialética Negativa diz que a referida obra “se mantém
distante de todos os temas estéticos” (ADORNO, 2009, p.8), esta
distância aponta para esta lealdade ao que lhe é próprio, ou seja,
sua referência aos conceitos; mas também exige que essa referência
seja negada, enquanto possibilidade de ir além, mesmo que através
dele mesmo, o que é próprio da filosofia e que na estética é possível
pela crítica.
Uma referência clara de Adorno acerca da relação entre filosofia
e arte está nos Três estudos sobre Hegel (1969), quando observa:
Certamente, o estilo de Hegel é contrário ao entendimento
filosófico costumeiro; apesar de que, graças a suas
fraquezas elabora outro [entendimento, B.B]: devemos ler
aHegel acompanhando-o enquanto descreve as curvas de
seu movimento espiritual e - por assim dizer- acompanhar
com o ouvido especulativo aos pensamentos, como se
fossem notas; e se é que, em resumo, a filosofia se alia
com a arte (na medida em que pretendeu salvar por
meio do conceito a mímesis suprimida por este), Hegel
se comporta a este respeito como Alexandre com o nó
górdio
11
. (ADORNO, 1969, p.160)
12
Assim, implícito à tarefa de trazer o não-idêntico à expressão,
encontra-se a necessidade de que o conceito acolha o conceituado
11 Relata-se que Alexandre Magno, rei da Macedônia, no início de sua campanha contra
os persas, parou em Gordião, capital da Frígia, onde foi informado de que um oráculo
havia prometido o império da Ásia a quem desatasse o complicadíssimo nó que prendia
a carroça de Górdio, rei da Frígia. Não conseguindo desatá-lo, Alexandre Magno cortou-o
com a espada.
12 As traduções para o Espanhol são de inteira responsabilidade das autoras.
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