Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 105

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Educação, filosofia... -
Belkis S. Bandeira e Neiva A. Oliveira
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maio
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. 2014.
Disponível em <
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No debate radiofônico na rádio de Hessen
14
, transmitido em
setembro de 1966, Adorno defende:
Mas aquilo que caracteriza propriamente a consciência
é o pensar em relação à realidade, ao conteúdo – a
relação entre as formas e estruturas de pensamento
do sujeito e aquilo que este não é. Este sentido mais
profundo de consciência ou faculdade de pensar
não é apenas o desenvolvimento lógico formal, mas
ele corresponde literalmente à capacidade de fazer
experiências. Eu diria que pensar é o mesmo que fazer
experiências intelectuais. Nesta medida e nos termos
que procuramos expor, a educação para a experiência
é idêntica à educação para emancipação. (ADORNO,
2003b, p.151)
Sob este ponto de vista, a reflexão necessita dos conceitos
para relacionar-se com a realidade, mas também da sensibilidade
para poder ir além do próprio conceito no processo de compreensão
do objeto e do próprio sujeito, que, numa perspectiva constelatória,
percebe o objeto a partir das relações que estabelece com a realidade
concreta, entendida em suas múltiplas relações históricas, sociais
e culturais.
O conhecimento, entendido como experiência humana, forma,
pois permite ao sujeito pensar criticamente a realidade em que está
inserido, estabelecendo relações com o mundo e também com o
outro, não apenas como objeto a ser conhecido, mas como algo
não-idêntico e que só pode ser experienciado, não meramente
14 Há controvérsias no que diz respeito à tradução para o português das conferências
radiofônicas de Adorno realizadas entre 1959 e 1969 e publicadas no Brasil sob o título
Educação e emancipação (2003), uma vez que o título original da obra é Erziehung zur
Mündgkeit e a tradução da palavra Mündgkeit aproxima-se mais de maioridade que
propriamente emancipação, e neste sentido está mais próxima da tradição kantiana e do
ideal de sujeito autônomo, que de uma emancipação em sentido marxiano, que pressupõe
uma mudança social, permitindo a saída do sujeito de uma condição de sujeição enquanto
classe. Kant no célebre artigo publicado em 1784, responde à pergunta: Que é Esclarecimento?
(KANT,1998, p.11-19). Sua resposta é que o esclarecimento é “a saída do homem da sua
menoridade que ele próprio é culpado”, disseminando a ideia do esclarecimento como
possibilidade de passar do estado de minoridade à maioridade (Mündigkeit), que implicaria
em fazer uso da própria palavra. A este respeito, cabe mencionar a conferência do professor
Avelino da Rosa Oliveira no III Seminário de Filosofia e Educação de Passo Fundo/RS (2008),
quando levanta a discussão acerca desta tradução, na mesa “Formação Emancipadora e
Racionalidade instrumental”.
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