Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
112
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
A passagem mostra que a experiência não surge de uma
relação imediata com a realidade, mas se forma com o tempo,
com a memória, com a sua integração na própria vida. Entender
que o tesouro era o trabalho e não o ouro significa tomar parte
na experiência daquele pai, naquilo que nele ficou marcado. Para
participar daquela “sabedoria” seria necessário perceber-se como
parte de uma tradição, de uma história, e se localizar nela a fim
de compreender a dimensão da experiência alcançada no final do
processo.
Tais considerações indicam outra característica da experiência:
a possibilidade de comunicá-la a alguém. Como diz Benjamin,
“sabia-se exatamente o significado da experiência: ela sempre
fora comunicada aos jovens.” (BENJAMIN, 1985a, p.114). Dar um
conselho, por exemplo, faria sentido na medida em que ele resulta
de uma experiência, em que ficou retido na vida de alguém e que
ainda pode ser transmitido a outra pessoa, pois se insere em um
tempo comum e que lhe dá autoridade. O pai que dá um conselho
ao filho o faz, provavelmente, porque ao longo de sua vida passou
por momentos que não foram efêmeros, que continuaram presentes
em sua memória, formando uma base sólida sobre a qual ele próprio
se constitui. Por isso é que ela não pode ser uma vivência, entendida
como uma simples sensação, efêmera e que pode ser rapidamente
esquecida.
2. E
xperiência
e narrativa
É principalmente no texto
O narrador:
considerações sobre a
obra de Nikolai Leskov, escrito em 1936, que Benjamin desenvolve
sua reflexão sobre a narrativa, em especial, sobre sua extinção na
sociedade moderna capitalista. Observar a decadência da arte de
narrar é compreender o declínio da experiência, pois ao se deixar
de narrar uma história “é como se estivéssemos privados de uma
faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de
intercambiar experiências.” (BENJAMIN, 1985b, p.198). Benjamin
apontará o surgimento do romance no início do período moderno
e do jornal – que traz notícias de lugares distantes, como outrora
o viajante, que agora se vê “dispensado” – como parte das causas
objetivas do encolhimento da narrativa. Tal consideração é também
recorrente no texto
Sobre alguns temas em Baudelaire
: