Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 116

Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
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p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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... o que se desintegrou foi a identidade da experiência,
a vida articulada e em si mesma contínua, que só a
postura do narrador permite. Basta perceber o quanto
é impossível para alguém que tenha participado da
guerra, narrar essa experiência como antes uma
pessoa costumava contar suas aventuras. A narrativa
que se apresentasse como se o narrador fosse capaz
de dominar esse tipo de experiência seria recebida,
justamente, com impaciência e ceticismo. (ADORNO,
2003, p. 56).
A explicação sobre por que a guerra é um obstáculo para a
realização de uma experiência propriamente dita fica mais clara em
Minima Moralia.
No aforismo 33, Adorno observa que aquela situação
seria capaz de destruir uma barreira que serviria como proteção aos
estímulos, como se cada choque, cada violência sofrida, destruísse
uma parte da sensibilidade e agisse tão profundamente sobre o
indivíduo que ele não teria condições sequer para a lembrança do
terror experimentado, portanto, tampouco poderia comunicar o
que passara aos demais. Há uma distância entre a experiência de
cada um e a capacidade de assimilação, pois a guerra, do mesmo
modo que o trabalho mecânico presente na sociedade capitalista,
cria uma situação na qual somente é possível aos sentidos uma
resposta automática, não a elaboração do que foi vivido. Segundo
Adorno (1993, p. 45), “o mecanismo de reprodução da vida, de
sua dominação e aniquilação, é imediatamente o mesmo”, ou
seja, a estrutura do trabalho alienado se faz presente também
nas estratégias de guerra. Na sociedade ele provoca o tédio e a
frustração no indivíduo por reprimir suas pulsões; na guerra, um
impulso à agressão, por exemplo, perde sua significação diante de
um tanque ou de uma bomba. O choque sofrido ultrapassa qualquer
possibilidade de elaboração por parte do sujeito, ele escapa ao seu
controle e é incorporado sem mediação.
Outra relação entre o empobrecimento da experiência e a guerra
é encontrada na seguinte passagem, em que Adorno destaca como
seu o funcionamento mecânico se relaciona com o indivíduo:
Como a Guerra dos Trinta Anos, a atual [Segunda
Guerra Mundial] – da qual, uma vez terminada, ninguém
recordará mais o começo – está dividida em campanhas
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