Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 126

Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
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.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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dar conselhos nem a nós mesmos nem aos outros.
Aconselhar é menos responder a uma pergunta que
fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história
que está sendo narrada. [...] o conselho tecido na
substância viva da existência tem um nome: sabedoria.
A arte de narrar está definhando porque a sabedoria
– o lado épico da verdade – está em extinção. [...] na
realidade, esse processo, que expulsa gradualmente a
narrativa da esfera do discurso vivo e ao mesmo tempo
dá uma nova beleza ao que está desaparecendo, tem
se desenvolvido concomitantemente com toda uma
evolução secular das forças produtivas. (BENJAMIN,
1985b, p. 200).
Adorno faz uma consideração semelhante em
Minima
Moralia
. Não nos mesmos termos de Benjamin, mas que ainda
revela, da mesma forma, a corrupção de uma concepção de vida
não fragmentada. O conselho, identificado na sociedade burguesa
como auxílio, teria o caráter de substituir uma verdadeira ajuda,
ou seja, por meio de algo que não custa nada àquele que dá,
livrava-se de realmente comprometer-se com o outro. Ele era
também um modo de dominação, mas que tem um lado positivo,
pois, para Adorno (1993, p. 119), “aí ainda se encontrava um
apelo à razão, que era concebida como a mesma em quem
pedia e em quem não concedia”, ou seja, existia uma unidade
pela qual era possível, até mesmo, tornar o conselho útil. Seria
possível indicar um caminho e, assim, aquele que o recebia teria
condições de solucionar seu problema. Mas, para Adorno, na
sociedade capitalista tal ajuda se extinguiu e o conselho passou
a mascarar o fato de que ninguém mais pode auxiliar outra
pessoa. A vida se tornou previsível, no sentido de que cada um
sabe o que lhe pode acontecer, e o conselho, então, só serve
para intensificar a angústia de quem sabe como deve agir, mas
se recusa a fazê-lo. Nesse caso, não se tem ajuda daquele que
parece contribuir com uma solução, apenas, como o próprio autor
diz, uma “sentença condenatória”. Se o indivíduo não tem saída
em meio às limitações da sua vida, tem que fazer aquilo mesmo
que o repugna, já que “quem não é capaz de ajudar, não deveria
também, por isso mesmo, dar conselhos: em uma ordem onde
todos os buracos estão tapados, o simples conselho transformou-se
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