Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 136

Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
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.131-154
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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paralogia, do dissentimento, da “sensibilidade para a diferença”
(LYOTARD, 2000, p. XVII).
Embora no livro de 1979 –
A condição pós-moderna
– seja
possível vislumbrar algumas implicações do pós-moderno para a
relação ética e estética, é pela leitura de uma outra publicação
de Lyotard que podemos observar mais claramente a dimensão
ético-estética de sua concepção epistemológica:
Moralidades pós-
modernas
(1996). Ao contrário do que poderia fazer crer o título,
Moralidades
não trata exclusivamente da ética. Consiste na reunião
de ensaios que se embrenham, alternada ou simultaneamente,
por temas políticos e estéticos. Assim, fazem parte do itinerário de
Lyotard a guerra do Golfo, o artista gráfico, a tradução, a música, a
situação do oriente em face do ocidente etc. As cidades grandes, em
sua hibridez cosmopolita, são, para o filósofo, o grande símbolo do
pós-moderno: toda moral ou verdade não é senão uma fábula, uma
micronarrativa fundamentada a partir de uma localidade.
As moralidades não só devem manter-se múltiplas, para
Lyotard, como também é desejável que as várias moralidades
possam se chocar e se interligarem na invenção do novo. A invenção
empreendida pelo artista também deve ser orientadora da ética.
Desse modo, ele nega qualquer necessidade de acordo democrático
entre os homens. Supõe que o acordo democrático também é uma
forma de opressão, de modo que é preferível o conflito, desde que
esse corrobore a criação (LYOTARD, 1979; 1996).
Quando da sua apropriação da pragmática dos jogos de
linguagem de Wittgenstein, Lyotard mostra-se cativado por um
comentário do filósofo alemão que coloca a cidade como símbolo
da linguagem:
Nossa linguagem pode ser considerada como uma
velha cidade: uma rede de ruelas e praças, de casas
novas e velhas, e de casas dimensionadas às novas
épocas; e tudo isso cercado por uma quantidade de
novos subúrbios com ruas retas e regulares e com casas
uniformes. E, para mostrar que realmente o princípio
de unitotalidade, ou de síntese sob a autoridade de um
metadiscurso do saber, é inaplicável, ele faz a “cidade”
da linguagem passar pelo velho paradoxo do sorita: A
partir de quantas casas ou ruas uma cidade começa a
ser uma cidade? (LYOTARD, 2009, p. 73).
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