Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 135

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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
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.131-154
maio
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. 2014.
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mas não pode ser ele próprio visível. Tornar visível o invisível expressa,
para Lyotard, uma presença negativa, o que, por sua vez, indicaria a
incomesurabilidade da realidade em relação ao conceito e o fracasso
do realismo. No entanto, para ele, há na estética moderna uma
nostalgia da presença sentida na qual o irrepresentável aparece
como algo perdido para o sujeito. O pós-moderno é aquilo que,
no moderno, reforça o sentido do irrepresentável, mas sem esse
ressentimento nostálgico.
O século XIX e o século XX nos deram tanto terror quanto
podemos suportar. Nós já pagamos um preço alto suficiente pela
nostalgia do Todo e do uno, pela reconciliação do conceito e
do sensível, pela experiência transparente e comunicável. Sob a
demanda geral de relaxamento e de apaziguamento, nós podemos
ouvir os murmúrios do desejo de um retorno do terror, da realização
da fantasia de apreender a realidade. A resposta é: travemos uma
guerra contra a totalidade; testemunhemos o não apresentável;
ativemos as diferenças e salvemos a honra do nome (LYOTARD,
1993a, p. 46).
O que era algo pontual na teoria kantiana torna-se, nas mãos
de Lyotard, a referência para toda produção do conhecimento em
face do que ele considera ser o caráter irrepresentável da realidade
e o terrorismo da noção de totalidade. Cabe notar também que,
por um caminho bastante peculiar e curioso de denúncia das
promessas não cumpridas do projeto moderno, o filósofo francês
deseja salvar e louvar, a seu modo, a força revolucionária original
do modernismo. No entanto, essa compreensão desenvolvida por ele
após
A condição pós-moderna
não alcançou a popularidade daquela
presente nesse livro que, ao combinar termos como “sociedade pós-
industrial” e “era pós-moderna”, acabou por abraçar aquilo que ele
denunciou: uma grande narrativa de anúncio de uma ruptura radical
e de emergência de um novo tipo de conhecimento e de uma nova
condição histórica – como sugere o título do livro. Registra-se que, em
toda essa trajetória, todas as formas de conhecimento são avaliadas
a partir do âmbito estético (como narrativas que reforçam o sentido
artístico da irrepresentabilidade da realidade). Acrescenta-se a isso
uma defesa da guerra contra a totalidade, contra os metarrelatos
e contra “o desejo de unidade, de identidade” (LYOTARD, 1993a,
p. 40). Em contrapartida, há o enaltecimento dos posicionamentos
éticos a favor dos determinismos locais, do “pequeno relato”, da
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