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Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
... sentimento, de nenhum modo injustificado das
massas, de que, com a margem de participação na
política que lhes é reservada pela sociedade, pouco
podem mudar em sua existência [...]. O nexo entre a
política e seus próprios interesses lhes é opaco, por isso
recuam diante da atividade política. Em íntima relação
com o tédio está o sentimento, justificado ou neurótico,
de impotência: tédio é o desespero objetivo. (ADORNO,
1995, p. 76).
Além disso, Adorno critica Schopenhauer em relação ao fato
de ser o tédio não um estado de felicidade proveniente da satisfação
das necessidades, dado que já não é mais requerido o esforço
pela sobrevivência, mas, sobretudo, porque o tédio daqueles que
se encontram em uma situação privilegiada decorre de que sua
felicidade é comprometida pela infelicidade que pertence aos que
dessa situação não participam: àqueles que têm que se submeter
ao trabalho mecânico. Como afirma Adorno,
... quando alguém de lá em cima realmente se entedia,
isso não decorre de um excesso de felicidade, e sim do
fato de que esta está marcada pela infelicidade geral;
decorre do caráter de mercadoria, que abandona as
satisfações à idiotia, da brutalidade do comando, cujo
eco ressoa aterrorizante na alegria debochada dos
dominantes, por último, de sua angústia diante de sua
própria superfluidade. (ADORNO, 1993, p. 154).
A impossibilidade da experiência também se mostra, como o
próprio Benjamin já havia defendido, na incomunicabilidade de algo
que tenha ocorrido a uma pessoa. O declínio da forma narrativa em
detrimento do romance atesta o fato de que não há mais sentido, por
exemplo, aconselhar alguém, dada a ausência de autoridade capaz
de apontar uma direção certa a ser seguida, nem uma concepção
de vida unitária que permitiria a recepção do conselho. Nas palavras
de Benjamin,
... se “dar conselhos” parece hoje algo de antiquado,
é porque as experiências estão deixando de ser
comunicáveis. Em consequência, não podemos