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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.131-154
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
Os resultados estão organizados em dois grandes momentos.
No primeiro, abordamos como as questões éticas e estéticas
aparecem na formulação filosófica pós-moderna de Jean-François
Lyotard. O segundo momento é composto por dois itens nos quais
tratamos os possíveis questionamentos e problematizações que
a Teoria Crítica da Sociedade sugere à formulação pós-moderna
lyotardiana.
É
tica
e
estética na
formulação
clássica
do
pós
-
moderno
A relação entre ética e estética é um tema bastante comum
na filosofia contemporânea. O pensamento pós-moderno tem tido
uma presença significativa no debate dessa relação. Em
A condição
pós-moderna
(1979), Jean-François Lyotard (2000) detecta um
processo de corrosão interna da ciência. Segundo ele, os metarrelatos
são saberes pré-científicos, isto é, são relatos autolegitimadores,
pois não recorrem a argumentos e provas para se afirmarem. Ao
legitimar a sua prática com relatos dessa natureza (pré-científicos),
a ciência acomete sua pretensão de saber verdadeiro em detrimento
dos outros. Desta forma, para ele, o discurso científico é desvelado
em sua paridade com os demais: “O saber científico não pode saber
e fazer saber que ele é o verdadeiro saber sem recorrer ao outro
saber, o relato, que é para ele o não-saber, sem o que é obrigado a
se pressupor a si mesmo e cai assim no que ele condena, a petição
de princípio, o preconceito” (LYOTARD, 2000, p. 53). O argumento
básico que subjaz a esse debate é que, na visão lyotardiana, todo
conhecimento assume a forma de uma narrativa sem relação com
a objetividade (LYOTARD, 2000).
Em artigos posteriores (1993a, 1993b), Lyotard buscou clarear
suas posições, responder a alguns ataques (como os de Habermas)
e discordar de perspectivas de alguns defensores do pós-moderno.
4
Nesse processo, ao mesmo tempo em que refinou seus argumentos,
ele também incluiu algumas novidades. Uma delas diz respeito à
própria definição do termo “pós-moderno”. Contra a interpretação
do termo
pós
em termos de sucessão, cronologia linear, reversão,
ruptura, Lyotard afirma que o pós-moderno é parte do moderno: “O
4 Tanto Anderson (1999, p. 38) quanto Kumar (1997, p. 121) destacam a discordância de
Lyotard em relação à perspectiva pós-moderna do arquiteto Charles Jencks que criticava
a experimentação artística.