Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 140

Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
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. 22,
p
.131-154
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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Soma-se a isso a rejeição de Lyotard (1979) ao ideal de formação
autônoma, reconhecido por ele como mais uma metanarrativa
intransigente reivindicada pelo Iluminismo. Lyotard festeja a queda
de toda e qualquer utopia, pois essa é a maneira de os sujeitos se
sintonizarem com o pós-moderno: dando vazão à volubilidade de
seus desejos.
A
rte
:
autonomia ou
submissão
ao mercado
?
Em sua Teoria Estética, Adorno descreve a obra de arte como
fait social (fato social) e autônoma. Isto é, a obra de arte é social, na
medida em que deriva do estado de forças produtivas e retira seus
temas da sociedade. Ao mesmo tempo, a obra de arte é autônoma,
uma vez que deriva da construção de um sujeito autônomo. Adorno
não acredita ser possível abrir mão dessa reivindicação moderna no
âmbito da arte.
Há um pano de fundo histórico que serve de base para a
apresentação da obra de arte como fato social marcada pela
autonomia. Com as relações capitalistas de produção, a ideologia
liberal divulgou os preceitos da nova classe em ascensão. Assim,
assentada nos ideais liberais, a burguesia empreendeu a defesa
do indivíduo, da propriedade privada e da liberdade e estimulou o
livre comércio. Foi nesse contexto, que o artista começou a praticar
uma arte mais original e se sentiu livre para criar, o que dificilmente
acontecia na Idade Média, quando a arte era tutelada pela Igreja ou
pela nobreza. Por essa razão, Marcuse trabalha a noção de cultura
afirmativa como a cultura da época da época burguesa. Segundo ele,
“no curso de seu próprio desenvolvimento levaria a distinguir e elevar
o mundo espiritual-anímico, como uma esfera de valores autônoma,
em relação à civilização” (MARCUSE, 2001, p. 17).
Na transição para a Idade moderna e capitalista, a burguesia
prometeu a felicidade e a arte foi uma das mediadoras dessa
promessa. Contudo, a formalidade estrita dos ideais burgueses
não poderia sustentar a ideia de um bem estar universal e público.
Sua existência deveria se confinar ao âmbito privado e, sobretudo,
interior. As manifestações artísticas, identificadas com o belo e
com a felicidade, seriam capazes de trazer para a interioridade dos
sujeitos modernos a velha eudemonia. Ela deveria ser universalizada,
juntamente com a cidadania, privilégio de poucos na antiguidade.
Assim é apresentado o ideal de cultura afirmativa à modernidade.
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