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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.131-154
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
Lyotard confere a esses múltiplos jogos desautoriza a análise crítica
da cultura e dispõe em seu lugar a mera fruição e sensibilidade à
diferença.
Paralelamente a isso, Lyotard conceitua a arte e a experiência
estética como profundamente afins à lógica do mercado. Nesse
sentido, pode ser entendida sua análise da arte gráfica como
síntese da arte em geral, bem como sua descrição do indivíduo
chamado a investir sua atenção e desejo nos estímulos promovidos
pela cidade.
Não bastasse isso, sua crítica à opressão das metanarrativas
ocidentais busca salientar a importância de serem mantidas
múltiplas narrativas capazes de se chocarem e levarem ao novo.
Contudo, ao negar a importância de se distinguir a autonomia e a
cultura de massa, ele próprio contribui para que o novo se encontre
em declínio na contemporaneidade, tanto nas formas culturais como
no modo de se compreender o mundo. Lyotard rejeita a utopia, mas
deseja o novo e a invenção. Isto é, compreende como opressora
qualquer tentativa de transpor a sociedade atual, ao mesmo tempo
em que incentiva as pequenas mudanças.
Em termos de produção do conhecimento, Lyotard estende a
narrativa estética (e seu exercício de não representação objetiva
do mundo) como modelo para todas as formas de saber. Assim, por
exemplo, o supremo êxito de um cientista é ter ideias; para isso, não
existe método científico. Dessa forma, “um cientista é em princípio
alguém que ‘conta história’” (LYOTARD, 2000, p. 108). Não por
acaso, tem-se atribuído a proposições educacionais chamadas
pós-críticas uma meta meramente estética: “Poetizar nesse caso
significa produzir, fabricar, inventar, criar sentidos inéditos. Novos
olhares! Novas conexões! Novas sinapses! Novos sentidos! É isto
o que as produções pós-críticas têm mobilizado no campo da
educação brasileira” (PARAÍSO, 2004, 295-296).
Sua ênfase no fragmento e na interdição da realidade objetiva
celebra, na verdade, o empobrecimento da experiência. Neste caso,
a narrativa assume, com entusiasmo, seus limites na vivência.
Novamente não é casual que a maior parte da produção do campo
educacional que se caracteriza com relato de experiência se rende
a descrição de situações pontuais, empíricas e imediatas; enfim,
fragmentos de vivências singulares que não pretendem evidenciar
seu vínculo com a coletividade.