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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
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v
. 9,
n
. 22,
p
.131-154
maio
/
ago
. 2014.
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da cultura burguesa, continha um valor de verdade que transcendia
as precárias condições de existência material” de homens e mulheres
(SILVA, 1999b, p. 194). Para esse autor, no momento em que a obra
de arte remetia-se a um mundo distante e irrealizável no âmbito da
materialidade humana, a obra de arte burguesa protestava contra
a ordem vigente, mas não mais o faz.
A arte e a mercadoria apontam existências antagônicas.
A indústria cultural ameaça a própria existência da arte. A sua
transformação em mercadoria bane sua autonomia e representa a
sua “liquidação social” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 147).
Daí porque, para Adorno (1982, p. 352), “A instrumentalização da
arte sabota o seu protesto contra a instrumentalização”.
Grosso modo, para os teóricos frankfurtianos, a potência
negativa da obra de arte por si só não leva ao estranhamento da
sociedade administrada que a tudo coisifica. Necessário, pois, a
mediação constante daquela autorreflexão filosófica. O educativo da
obra de arte está em que estimula e convida o pensamento a partir
da experiência estética.
Nesse horizonte, Marcuse ressalta que, dentro de uma vida
regida pelas privações do capital, o mero vislumbre de outro mundo
criado pela arte, repleto de beleza, é, em si mesmo, negativo.
A sublimação estética dirige-se à componente
afirmativa, reconciliadora da arte, embora seja
ao mesmo tempo um veículo da função crítica,
negadora, da arte. A transcendência da realidade
imediata destrói a objetividade reificada das relações
sociais estabelecidas e abre uma nova dimensão da
experiência: o renascimento da subjetividade rebelde
(MARCUSE, 1993, p. 20).
A concepção de pós-moderno de Lyotard caminha em direção
oposta a essa posição. Em vista da necessidade de convencer os
clientes a comprarem seus produtos, o mercado está aparentemente
sempre em renovação, ainda que essas inovações não signifiquem
uma novidade qualitativa e consiste apenas em variações de
características presentes em outras mercadorias. Condizente com
isso, Lyotard critica a utopia da formação do sujeito e coloca em
seu lugar as invenções mercadológicas que entretêm o consumidor.
Com foco na descrição da cultura atual como pluralista, ele não