Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 147

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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
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.131-154
maio
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. 2014.
Disponível em <
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Estética do choque, pobreza da experiência e fetichismo da
mercadoria encontram-se na vida moderna, mas se tornam mais
evidentes no espaço da cidade.
Consciente dessa relação entre cidade e sensibilidade, Benjamin
analisa como que as ruas das cidades são percebidas pelo homem
moderno. As galerias parisienses – típicas do século XIX e precursoras
do que hoje em dia seriam os grandes centros comerciais – projeta-se
abruptamente de um vão entre as ruas e serve de passagem e atalho
para o caminhante. Dessa forma, aquela arquitetura contribui para
a sensação de que tudo no espaço urbano está sujeito ao valor de
troca. Assim, a galeria (como a rua) é indistintamente trajetória do
passante; o espaço dedicado à mercadoria torna-se, potencialmente,
todo espaço. Tudo é, igualmente, alvo da avidez criada pelo fetichismo
da mercadoria.
A despeito da reificação crescente da vida, é certo que, para
Benjamin, na flânerie e no seu tempo medido a passos de tartaruga,
traduzido pelo ócio do passante, é possível verificar a inverdade da
ânsia produtivista. Os passantes nas multidões andam às pressas.
Por estarem ensimesmados, são profundamente desinteressados
em relação aos demais. No entanto, ao flâneur se coloca a tarefa
da observação detetivesca: “Na base da flânerie encontra-se, entre
outras coisas, a pressuposição de que o produto da ociosidade é mais
valioso que o do trabalho. Sabe-se que o flâneur realiza ‘estudos’”
(BENJAMIN, 1989, p. 233). Pela flânerie estudam artistas, escritores,
intelectuais, dentre outros.
Na flânerie e na poesia de Baudelaire, ainda se encontram
estilhaços da experiência. Protestando contra a perda da mesma,
Baudelaire é aquele que reivindica dignidade para ummundo em que
ela não se encontra mais em nenhuma parte. Baudelaire possuía,
por conta disso, plena noção de sua condição de literato. Uma vez
que não nutrira ilusões quanto ao mercado literário, habituara-se
a comparar o literato – sobretudo a si mesmo - com a prostituta.
O literato se vende para ter a obra lida. Como flâneur, vai às ruas,
pensa que é para olhar, mas, na verdade, já é para procurar um
comprador” (BENJAMIN, 1989, p. 30).
A despeito disso, é importante ter em vista que Benjamin
interpreta o protesto de Baudelaire como uma maneira de manter-se
crítico quanto à miséria dos homens na modernidade. Por mais que
a Baudelaire já chegasse à inevitável reificação de uma sociedade
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