Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 145

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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
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. 2014.
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algo parecido à fala desses viajantes que, do trem, dão
nomes a todos os lugares pelos quais passam como um
raio, a fábrica de rodas ou de cimento, o novo quartel,
prontos para dar respostas inconsequentes a qualquer
pergunta (ADORNO, 2009, p. 12).
Dessa maneira, “a experiência do sujeito é substituída por
um momento informativo, fugaz e isolado, que logo é suplantado
pelo consumo de outras informações ” (LOUREIRO, 2007, p. 56).
Benjamin (1994, 119) assegura: “aos olhos das pessoas, fatigadas
com as complicações infinitas da vida diária e que vêem o objetivo da
vida apenas como o mais remoto ponto de fuga numa interminável
perspectiva dos meios, surge uma existência que se basta a si
mesma, em cada episódio”. Assim, as narrativas que daí surgem se
apresentam como trechos de histórias, episódios particulares que
não fortalecem a memória comum e a experiência coletiva.
A raridade da experiência contribui para o arrefecimento da
memória e, consequentemente, para a impossibilidade de narrar.
Desse modo, “Na substituição da antiga forma narrativa pela
informação, e da informação pela sensação reflete-se a crescente
atrofia da experiência” (BENJAMIN, 1989, p.107).
É possível constatar que a primazia do aspecto sensorial, por
caracterizar uma atrofia da experiência, relaciona-se com a vivência
(Erlebinis), que se constitui como ummodo fragmentado de perceber
o mundo. Inúmeros aspectos da modernidade contribuem para a
hegemonia da vivência. O assentamento dessa estética do choque
é corroborado pela evolução técnica, que torna possível executar
tarefas a partir do apertar de um botão ou mesmo subdividi-las em
partes que não parecem se relacionar ecompartilham do princípio
de desconexão que se verifica na informação jornalística, segundo
o qual uma notícia não tem relação com outra.
Benjamin entende a estética do choque característica das
cidades grandes como análoga ao choque pelo qual passam os
operários dentro das fábricas. No trabalho artesanal, no qual havia
uma dimensão da experiência relativa à tradição, o artesão tinha
consciência de todo o processo de fabricação. Entretanto, o trabalho
se torna alienado e tem suas partes autonomizadas, de modo que
o operário já não compreende o todo, pois trabalha como um
autômato. A própria percepção do tempo torna-se, dessa forma,
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