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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
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. 9,
n
. 22,
p
.131-154
maio
/
ago
. 2014.
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diz respeito ao prazer, ao gozo que pode ser conquistado na fruição
do objeto estético – a arte – é considerado supérfluo. O caráter
afirmativo da cultura que libertou a arte, transformando-a em uma
mercadoria “autônoma” – tal como o trabalhador é livre para vender
sua força de trabalho no mercado – já não mais representa uma
força revolucionária. A burguesia continua a prometer a felicidade
para todos, sem que isso signifique, obviamente, modificar o estado
falso no qual a cultura se desfaz.
Assim, em seu ensaio Teoria da semiformação, Adorno
(1996) expõe os vínculos da indústria cultural com a semiformação
(Halbbildung). Para o filósofo, faz parte da experiência formativa
educar para a adaptação, na medida em que introduz o sujeito na
sociedade. Ao mesmo tempo, ela deve prover meios do indivíduo se
formar como autônomo e crítico. Não obstante, a semiformação
inflaciona a adaptação a ponto de efetivamente impedir que a
formação autônoma se dê. A estética imediatista da indústria
cultural, avessa à criticidade e à reflexão, corroboraria, dessa forma,
a semiformação.
Os produtos da indústria cultural cumprem a função de
entretenimento e relaxamento. Ao sujeito é possível apreciar as partes
da obra de maneira imediata, sem que haja efetiva consideração
e fruição do todo da obra, assim como o que se dá na leitura da
informação jornalística na descrição de Walter Benjamin. A indústria
cultural não exige uma fruição ponderada pela reflexão, de modo
que há um rompimento com a concepção de homem esclarecido
do Iluminismo. É uma recepção estética na qual prevalece o puro
automatismo.
Ademais, na Teoria Estética, Adorno (1982 pondera que, na
arte, “o Novo se torna fetiche segundo o seu modelo, o caráter
fetichista da mercadoria” (ADORNO, 1982, p. 12). Ele observa que
a valorização do novo se encontra na Estética pelo menos desde o
Romantismo, mediante suas reflexões sobre o gênio e o original, e que
essa tendência a valorizar o novo é, em igual medida, compartilhada
pelo mercado. Essa reflexão parece esclarecer como é possível a
Lyotard construir uma formulação teórica na qual arte e mercado se
confundem em um discurso comum que valoriza a invenção.
A despeito de a indústria cultural ser regida pelo Immergleisch
(sempre-igual) dos estereótipos e dos clichês, ela precisa, assim como
o mercado em geral, sustentar a aparência de novidade. Seu objetivo