Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 141

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Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
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.131-154
maio
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. 2014.
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A rigor, o traço decisivo da cultura afirmativa “é a afirmação de um
mundo mais valioso, universalmente obrigatório, incondicionalmente
diferente do mundo de fato da luta diária pela existência, mas
que qualquer indivíduo pode realizar para si ‘a partir do interior’,
sem transformar aquela realidade de fato” (MARCUSE, 2001, p.
17). Marcuse sugere que a cultura afirmativa teve um momento
revolucionário, comparando-se com o período anterior ao domínio
burguês, pois, nessa fase, “a ascensão cultural deveria prover uma
satisfação para o desejo pessoal de felicidade” (MARCUSE, 2001,
p. 65). Por mais que essa promessa não tenha se concretizado, esse
processo histórico inseriu, na obra de arte, o potencial de exercer uma
autonomia (mesmo que relativa) em relação à objetividade histórica.
Tal fato instaura a possibilidade de contrapor-se às tendências sociais
nas quais ela se situa.
Assim, segundo Adorno, “O conteúdo de verdade das obras
funde-se com seu conteúdo crítico” (ADORNO, 2008, p. 62). É por
isso que a obra de arte se constitui ao mesmo tempo como verdade
e como negação determinada da realidade. Para Adorno, obras como
as de Franz Kafka e Samuel Beckett foram extremamente eficientes
em depor contra o mundo do qual derivam. Elas são críticas em
relação a esse mundo, posto que fazem mais do que simplesmente
endossá-lo. Seu estatuto de autonomia lhes confere poder crítico.
Autonomia, aqui, não significa liberdade absoluta ou total
independência social. Adorno enfatiza que a arte moderna possui,
sim, um forte vínculo com a realidade social. Ela tem o poder de
captar o dinamismo histórico das relações sociais, cuja manifestação
mais explícita ocorre, de forma geral, no processo produtivo. As
formas da arte moderna têm o poder de refletir os problemas típicos
da sociedade capitalista.
A arte implica o conhecimento da realidade: “a arte, como
forma de conhecimento recebe todo seu material e suas formas
da realidade – em especial da sociedade – para transformá-la”
(ADORNO, 2001b, p. 13). Por isso, tal como a filosofia, a arte remete
para o universal, aqui entendido como a coletividade: “O que aparece,
mediante o qual a obra de arte ultrapassa de longe o puro sujeito, é a
irrupção da sua essência colectiva” (ADORNO, 1982, p. 152), que, no
entanto, não sacrifica, tampouco reprime o particular em detrimento
de uma ordem gregária. Assim sendo, a relação da obra de arte com
o universal é indireta, pois é pela extrema individualização genuína
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