Ética e estética: confrontos.. -
Robson Loureiro
et al.
142
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. 9,
n
. 22,
p
.131-154
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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(de seus materiais, de seus problemas, suas formas de expressar-se)
que a arte é portadora do universal (ADORNO, 2001a, p. 24-25).
Como conhecimento, a arte possui relação com a verdade,
assim como a filosofia. Porém, a verdade da obra de arte não está
em seu aparecer imediato, mas na “aparência da não-aparência”
(ADORNO, 1982, p. 152). Duarte (1993, p. 153) explica que o
aparecer estético é fundamental, mas insuficiente para revelar o
conteúdo de verdade da obra de arte. Neste ponto, pode-se pensar
a contrapartida da filosofia em relação à estética.
Portanto, guiado pelo ideal de emancipação do sujeito, Adorno
não julga ser possível prescindir, no âmbito da fruição artística, de
um intenso debate com a tradição artística e filosófica. A própria
construção da obra de arte se remete às tradições, de modo que
a recepção estética também deve ser mediatizada por um sujeito
autônomo disposto a analisá-la criticamente. É parte integrante
da Estética uma reflexão que alterne essas duas tendências – que
se remeta à tradição e que, simultaneamente, possa compreender
cada obra específica a partir de uma crítica imanente, imposição
essa advinda da autonomia da obra. Desse modo, as obras de arte
precisariam ser constantemente examinadas de maneira filosófica
por quem as frui. O admirador da arte torna-se, necessariamente,
crítico de arte.
Contudo, ao considerar sua constituição histórica, Adorno
(1982) chama a atenção para o fato de que a arte autônoma, ao
absorver os procedimentos técnico-industriais, não representou, de
forma alguma, uma verdadeira autonomia, mas uma submissão aos
ditames do mercado. Esse processo ocorreu sob a ideologia de uma
suposta democratização da cultura. Porém, a indústria cultural não
realiza o projeto iluminista da universalização da cultura. Em outros
termos, não realiza nem o esclarecimento nem a ilustração.
Bergman, Kant e Picasso, para citar alguns exemplos de
obras mais elaboradas, continuam inacessíveis para a maior parte
da sociedade. A esta resta apenas as formas empobrecidas e
estereotipadas dessa mistificação das massas. Dizer que a indústria
cultural é a má realização do universal é o mesmo que dizer que ela
realiza tão somente a massificação da cultura, o que impede que a
sociedade como um todo se forme autonomamente.
Assim, a grande massa está deveras preocupada em garantir
formas de adquirir os bens necessários à sobrevivência. Tudo que