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Do conceito de formação humana... -
Lúcia Schneider Hardt
et al.
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.155-174
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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particularidade, que nos abre para outros horizontes
e que nos ensina a reconhecer, humildemente, nossa
própria finitude. (GRONDIN, 2012, p. 64)
Além disso, há que se considerar, também, nesta incursão,
o elemento significativo
da abertura hermenêutica, quer dizer, a
disposição
para o diálogo, retomada fortemente desde a tradição
por Gadamer (1997). A abertura hermenêutica é o que sustenta
a possibilidade do acontecimento do diálogo, a partir do qual nos
projetamos no mundo e ele mesmo se projeta sobre nós. Nossa
condição contém um mundo e a linguagem é a ponte entre os
mundos. Ela é o elemento comum entre humanos.
Percebemos com esta perspectiva filosófica um câmbio de
paradigma a partir do qual o aspecto intersubjetivo é determinante
porque o reconhecimento da “própria finitude”, conforme sugere o
autor, estaria no sentido do acontecimento da presença do outro,
mediando horizontes, ultrapassando o que poderia transformar-se
no aspecto possível do
vitiosum
da subjetividade. Aliás, Gadamer
chama a atenção para o fato de que o próprio compreender já é um
movimento radical de abstração do eu para o outro (GADAMER,
2001), uma situação limite, de finitude e transformação de um
lugar. Para deixar vir o outro, em alguma medida o eu deve calar,
morrer. Logo, percebe-se também uma evidente tensão neste
esforço interpretativo que se dá pela necessária manutenção de
uma presença do intérprete porque ele projeta sua historicidade
naquilo que interpreta e somente assim poderá fazê-lo. Afinal,
alguém esvaziado de sentidos poderia reconhecer sentidos no que
lhe sobrevêm?
Esta digressão filosófica, na esfera da educação escolar, nos
leva a perceber a importância do surgimento de outro paradigma,
menos centrado na figura do sujeito epistêmico. Sabemos o quanto
as experiências educativas e pedagógicas carecem de fundamentos
necessários para alimentar um constante pensar sobre si mesmas.
Também não desconhecemos as dificuldades que os profissionais
envolvidos nas tarefas de educar e de ensinar trazem com relação a
não só se apropriarem das referências teóricas basilares para todo e
qualquer empreendimento de natureza educacional, como também
de teorizar, eles próprios, sobre o seu fazer cotidiano. De fato, pensar
e teorizar sobre a educação não é das tarefas mais fáceis, pois