Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 166

Do conceito de formação humana... -
Lúcia Schneider Hardt
et al.
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. 22,
p
.155-174
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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alguma medida. Diria Heidegger (1995) que se trata de um projetar-
se nela, daí o sentido atribuído do implicar-se enquanto um estar
ali, nela, o que nos leva ao lugar mesmo, alçando o perspectivismo
a um patamar de destaque no horizonte nietzschiano: o humano
põe-se em
agonística
por seu lugar, seu território. Dessa entrada
com Nietzsche, cabe destacar a avaliação que faz da tensão entre
educação e natureza:
A
primeira natureza.
Conforme nos educam hoje,
adquirimos primeiro uma
segunda natureza
, e a
possuímos quando o mundo diz que chegamos à
maturidade, emancipados, tornados úteis. Somente
um pequeno número é bastante serpente para largar
esta pele um dia, quando sob sua envoltura chegou à
maturidade
a primeira natureza.
Mas na maioria das
pessoas o germe se atrofia. (2008, p.220)
Neste contexto, formar tem sido cobrir uma primeira natureza
de outra pele, dada como adequada, mais civilizada. Tal como
espelha o modelo kantiano, a educação para a liberdade deveria
orientar-se pela disciplina e pela lei, produtoras de uma função
reguladora da moralidade, atuando pelo princípio de uma necessária
e inquestionável inserção do humano no processo civilizatório (ELIAS,
2011). Todavia, Nietzsche contrapõe-se a este espelho moral no
qual o humano trai sua natureza, produzindo uma antinatureza, a
moral, sufocando sua primeira pele. Afinal o que existiria em nossa
primeira pele para ser tão modificada? Mais impulsos vitais, menos
cognição, mais afetos, menos controles e regulações? Formação
implica, sem dúvida, um movimento, um deslocamento, um devir.
Quando nascemos, ainda não fizemos muitas travessias, existe
um horizonte largo a ser conhecido. Mas, qual o deslocamento e
movimento preferenciais? Em grande medida, nos desviamos dos
embates, insistentemente somos seduzidos a percorrer um itinerário
formativo dado como adequado.
Contudo, nossas necessidades não cansam de interpretar o
mundo. Nossos impulsos, segundo Nietzsche, em luta permanente
configuram interpretações que desejam a imposição de uma
perspectiva. Nesse entorno, a interpretação nos põe diante do
declínio ou do crescimento. Somos intérpretes quando avaliamos,
e no próprio embate dessa prática existe um inacabamento
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