Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 175

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É
tica
,
educação
e
desafios
contemporâneos
Divino José da Silva
1
R
esumo
Para que evitemos os idealismos, ao tratar dos vínculos entre ética e
educação, acreditamos que seja necessário focalizar alguns aspectos
presentes em nossa cultura, na atualidade, que parecem marcar de forma
incisiva os nossos valores. São eles: cinismo, delinquência, narcisismo,
competitividade e hedonismo. Abordaremos esses aspectos recorrendo,
sobretudo, às análises que Jurandir Freire Costa e Yves de La Taille fazem
da cultura brasileira contemporânea. O nosso intuito será explicitar que
pensar a relação entre educação e a formação ética requer mais do que
boas intenções e discursos idealizados, mas passa fundamentalmente pela
compreensão de aspectos da nossa cultura que têm força incisiva sobre as
práticas educativas. Reivindicamos, no final, que uma educação que tenha
como preocupação a formação ética deve privilegiar o cuidado do outro
mediado pelo “tato pedagógico” e pela “conversação”, os quais se expressam
por meio da linguagem poética.
Palavras-chave: Formação ética. Ethos moral. Conversação. Tato pedagógico.
I
ntrodução
A formação ética sempre ocupou centralidade no debate
educacional e lhe conferiu sentido. Desde o período clássico grego
até o pensamento filosófico contemporâneo, os vínculos entre ética
e educação são tratados, ora para explicitar e reforçar a importância
da educação na formação ética e moral dos cidadãos, ora para
evidenciar os limites intrínsecos a essa relação. Se, em outros tempos,
conforme salienta Hermann (2001, p. 12), essa “relação originária”
entre ética e educação se colocava como evidente, há, hoje, muitos e
diferentes modos de justificá-la
2
. O debate acerca dessa articulação,
comenta a autora, se move na filosofia contemporânea entre as
teorias universalistas, relativistas e contextualistas, que buscam
tecer os fios dessa relação que se apresenta cada vez mais frágil,
1 Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Presidente Prudente. E-mail: divino.js21@
uol.com.br
2 A respeito desses vários modos de justificar essa relação, consultar Goergen (2001, p.
150).
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