Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 185

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Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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.175-192
maio
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. 2014.
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é gozar sempre e afastar a todo custo o sofrimento. O que está em
questão, aqui, não é se devemos ou não suportar estoicamente o
sofrimento, mas os autores nos fazem pensar o quanto essa moral
identificada com o gozo não nos permite o trabalho da elaboração
e do luto sobre as nossas perdas e frustrações, o que nos torna
vulneráveis aos discursos dos especialistas. Dessa forma, o tempo
de elaboração da dor e do sofrimento está descartado e, com isso,
também a construção da nossa autonomia se vê limitada.
Estamos instalados também numa sociedade que prima pela
competição e que gera, em razão disso, a insegurança, o medo, a
sensação de inutilidade da vida, a falta de perspectiva, sobretudo
quando não dispomos das mesmas condições para competir. Nessa
competição, somos desde muito cedo treinados para dar cotoveladas
e entrar nesse jogo, mesmo que as regras e o ponto de partida não
sejam iguais para todos. Imaginemos, por exemplo, que, para os
alunos de escolas públicas, a perspectiva de sucesso que a escola
lhes proporciona, certamente, não é a mais animadora. De todo
modo, vale aqui a cínica máxima segundo a qual viver é competir e
que, nesse jogo, “vencem os melhores”. Assim, quando perdemos,
já estamos avisados de que os vencedores tiveram mérito. Numa
sociedade em que a lógica da competição rege nossas ações,
facilmente perdemos a noção acerca das injustiças e dos horrores
que elas produzem, pois o que importa no final é vencer. Exercer,
nesse contexto, a solidariedade e o respeito aos outros soa como
estupidez. Nesse jogo que é a competição, somos regidos pela “lei
de Gerson”: aprenda a se dar bem, sempre! Mesmo que para isso
tenhamos que atropelar meio mundo.
Situados nesse mundo regido pela lógica da competitividade
e dos interesses do mercado, parece que passamos a viver, como
explicam Agamben (2005) e Khel (2009), imersos numa outra
temporalidade governada pela pressa e pela velocidade, a qual
alterou a nossa percepção da realidade e as formas de tomar
decisões. Saltamos de uma sensação a outra e somos solicitados a
todo instante a fazer escolhas, no entanto, nos falta o tempo para
compreendermos o que nos acontece e para produzirmos um saber
sobre nós mesmos. Essa é a temporalidade do embotamento da
experiência, na qual todas as nossas energias são despendidas, para
usar uma imagem cara a Walter Benjamin, para aparar os choques
na multidão. Premidos pela urgência de atendermos de maneira
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