Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 188

Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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maio
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. 2014.
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frágil, valores que ajudem e favoreçam a preservação da vida,
que estimulem a solidariedade e o respeito ao outro. Valores que
estimulem a prática da justiça e o espírito democrático. Adquirir
modos de ser e de viver exige um aprendizado, o qual requer a
disciplina do espírito que depende do esforço individual, mas também
dos meios culturais à disposição dos indivíduos. Acreditamos que,
se a escola oferecesse meios culturais que auxiliassem na criação
dessas disposições, já estaria de bom tamanho. Para isso, talvez fosse
necessário o exercício do estranhamento na escola, o qual ajudaria
a romper com as práticas habituais e rotineiras. Tendemos todos,
naturalmente, para a adaptação às práticas rotineiras. Enfim, somos
seres rotineiros, porém, sabemos o quanto elas nos impedem de
nomear aquilo que nos passa e nos acontece, no espaço escolar.
Seguindo os rastros de Hannah Arendt, Bárcena nos sugere
que uma das maneiras de se lidar com a formação ética e o
desenvolvimento da faculdade de julgar, no contexto da educação
escolar, talvez seja recorrendo à narrativa poética, porque esse
constitui o lugar a partir do qual ainda seria possível tangenciar a
singularidade do que acontece na escola. Permitiria, nesse caso,
narrar os acontecimentos, tomando-os como singularidade que
escapa à regularidade das leis e dos saberes científicos escolares.
Ressalta Bárcena (2005, p. 64-65): “Se recorremos a nosso entorno
perceptivo nos damos conta de que um acontecimento rompe uma
ordem estabelecida que, ao tratar de narrá-lo, pode chegar a ser
compreendido.”
Bárcena encontra na linguagem da arte, particularmente no
romance e na poesia, a possibilidade de nos vermos de outra maneira,
em que podemos vislumbrar, embora em lusco-fusco, a verdade acerca
do que somos. Essa linguagem nos conduz a uma proximidade do
que há de humano e inumano em nós. A propósito da linguagem do
romance, Bárcena (2005, p. 79) afirma que, por meio dela, “podemos
saber o que ainda não somos. Damo-nos conta de que estamos sendo,
que a nossa identidade é um devir.” Assim, o romance nos possibilita
verbalizar o que antes não sabíamos de nós e do mundo, ao mesmo
tempo em que revela a ambiguidade humana. Essa linguagem da
arte tem olhos para o pequeno, para o detalhe, para o que escapa ao
previamente dado. Por ela, reaprendemos a olhar e a sentir o mundo.
Por ela, escapamos igualmente da compulsão do saber científico
que aprisiona em suas leis o que é complexo e que demanda tempo
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