Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
182
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. 22,
p
.175-192
maio
/
ago
. 2014.
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baseada na vida reta e justa passou a conviver na atualidade com
uma ideia de Bem que se define pela distância ou proximidade
à “qualidade de vida”, a qual ganha expressão no próprio corpo.
Essa nova perspectiva moral tem suas formas de vida referendadas,
conforme assinalamos acima, pelos discursos científicos, discursos
competentes.
No registro acima posto, ressalta Costa (2004), observa-se que
a ideia do cuidado de si, a qual em outros tempos estivera voltada
para o desenvolvimento de atributos da alma identificados com
sentimentos morais, hoje se volta para aspectos do corpo, tais como
beleza, saúde, manter em forma, ter uma vida longa. A preocupação
consigo se define a partir de uma
bioascese
, a qual encontra na
fitness
a expressão máxima da virtude. “O justo é o saudável; reto
é o que se adapta ao programa da vida bem-sucedida, do ponto
de vista biológico.” (COSTA, 2004, p. 191). Se, no cuidado de si,
em seu matiz estoico, o sentido da existência e das escolhas éticas
estavam vinculados a estilos de vida, a modos de ser, os quais tinham
implicações diretas na busca da felicidade, essa perspectiva do
cuidado, que antes demandava um voltar-se para si mesmo, tendo
em vista o cultivo da alma, foi transferida para a ciência. A felicidade,
a vida boa, está condicionada aos cuidados com o corpo prescritos
pela ideologia cientificista. A realidade corporal, nota Costa (2004,
p. 192), passa a ser cultivada considerando-se propósitos morais:
“Nunca, entretanto, havíamos imaginado que a forma corporal
pudesse ser garantia de admiração moral.” Assim, a performance
corporal adquiriu tanta importância quanto as virtudes morais, não
sem produzir efeitos físicos e psíquicos sobre os indivíduos.
Aqueles que, por alguma razão, não se identificarem ou
deixarem de investir nessa imagem social do corpo, a qual se define
a partir do receituário que determina o ideal de qualidade de vida
na atualidade, são vistos, segundo Costa (2004), como indivíduos
incompetentes, fracos, que não souberam exercer o domínio da
vontade sobre o corpo. Os sintomas mais evidentes desse tipo de
personalidades fracas se manifestariam naqueles que levam vidas
desregradas, que não sabem controlar a dependência química, a
compulsão por jogo, sexo e consumo; aqueles que são vitimados pela
bulimia, anorexia e síndrome do pânico, incapazes de dominarem
suas carências; os que, por excesso de timidez, não expandem sua
força de vontade, como é o caso dos apáticos e dos não assertivos;