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Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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. 22,
p
.175-192
maio
/
ago
. 2014.
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uma pressão a qual excede o seu poder de resistência, o que não
diminuiu sua responsabilidade na formação ética dos alunos. Para
isso, recorreremos às noções de tato pedagógico e conversação,
retomadas de Bárcena (2005), como um recurso para pensarmos a
ideia do cuidado com o outro e como uma exigência para o cultivo
de si, num tempo em que o exercício da experiência com o pensar se
encontra limitada, pois traz as marcas dos saberes dos especialistas,
do mercado, da publicidade e dos valores que informam o nosso
presente, os quais estabelecem um vínculo profundo com a ideia
do sucesso a todo custo. Tudo isso parece ter tornado mais pobres
as nossas experiências no presente, não deixando imune a própria
escola.
Iniciamos essa discussão sobre o cuidado, retomando a
advertência que Hannah Arendt (2001) nos faz, em seu texto
A crise
na educação,
chamando nossa atenção para a desistência dos adultos
em educar as crianças. Salienta a autora que transferimos essa
responsabilidade para os novos métodos de ensino, para o trabalho
dos especialistas, para a pedagogia do “aprender a aprender”, que
insistem em pensar o mundo infantil separado do mundo adulto.
Nossas crianças estão sendo expostas, cada vez mais cedo, ao mundo
público. São lançadas, prematuramente, ao mundo e expostas aos
seus riscos. Esperamos que elas se comportem como adultas, sem
que nos responsabilizemos por elas. Em nome da rápida inserção
no mercado e da preparação para a vida competitiva, tudo deve ser
antecipado, etapas no processo de formação devem ser rapidamente
eliminadas. Essa atitude se sustenta na crença falaciosa de que
as crianças podem se autogovernar e que, nesse caso, caberia
aos adultos apenas auxiliá-las nesse governo. Para a filósofa, sob
o pretexto de respeitar o mundo da criança, os métodos novos,
particularmente aqueles inspirados no pragmatismo americano,
expulsaram a criança do mundo dos adultos, mantendo-as em um
mundo artificial. Essa constatação da autora soa mais do que uma
advertência: talvez o mais apropriado fosse tratá-la como uma
denúncia, dada a intensidade com que a mesma nos coloca diante
da desistência dos adultos em educar as nossas crianças. Cada vez
mais, atribuímos essa função a terceiros.
Podemos afirmar que o papel da escola, ainda que limitado,
deve ser o de proteger aqueles que lá chegam, preparando-os para
a vida social. Proteger no sentido moral, reforçar nesse ser, ainda