Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 180

Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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.175-192
maio
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. 2014.
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são as particularidades da intimidade dos indivíduos. Essa situação
é exemplificada por Bignotto (2009, p. 229) com os
reality shows
:
“A importância concedida aos
reality shows
é uma prova da invasão
do espaço público por fatos e discursos que nada mais fazem do
que repetir a vacuidade dos discursos privados diante da tarefa
imensa de construir uma esfera pública na qual a cidade busca sua
identidade.”
Essa invasão do espaço público pela idiossincrasia da intimidade
privada nos aproxima da maneira como a mídia exibe aqueles que
não seguem normas ou princípios morais, mas, mesmo assim, são
tomados como parâmetro para o sucesso, portanto, para a imitação.
Nessas situações, a distinção entre público e privado se apaga em
função da publicidade, pois o que vale é a visibilidade e o sucesso
instantâneo; nesse caso, não há distinção de valores, porque, segundo
Costa (1994, p. 46), tudo é nivelado:
... o virtuoso e o vicioso; o banal e o extravagante; o
sublime e o monstruoso; o simulacro e a realidade. [...]
Não se pede mais ao indivíduo que “excelencie”, pede-
se que “apareça”, que “se mantenha em cartaz”. Não
se pede mais que pense em qual é a melhor escolha
moral para ele e para o outro, pede-se que calcule qual
a melhor tática para ser “bem-sucedido.
Essa invasão da esfera pública pela esfera privada associa-se
imediatamente à moral do espetáculo, a qual se define, na leitura
de Costa (2004, p. 227), a partir de um “ideal de felicidade das
sensações e no da vida como entretenimento.” Nessa moral do
espetáculo, os indivíduos são submetidos ao mundo das aparências
e à sua fluidez que se impõe como realidade social. Nesse contexto,
as imagens e os discursos passam a funcionar como instâncias
competentes que ditammodos de ser, pensar e viver, o que emmuitas
situações parece anular a capacidade do sujeito de pensar, decidir e
fazer escolhas, pois, entre nós e o mundo, como nota Chauí (1986),
se interpõe a fala dos especialistas sempre a postos para dizer como
devemos educar os filhos, como podemos ser felizes, como ganhar
tempo numa época em que não nos sobra tempo, como cuidar da
saúde etc. Os discursos competentes são excludentes e, apenas
para lembrar Foucault (2001), interditam a palavra, porque não é
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