Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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. 22,
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.175-192
maio
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. 2014.
Disponível em <
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pretende dar de si” (LA TAILLE, p. 164). A essa imagem associa-se
a fraqueza, a futilidade, o vazio, a superficialidade e a pequenez.
Nesse caso, para se portar a imagem do indivíduo bem-sucedido,
pede-se mais do que a aquisição de um corpo saudável, porque
se exige que o mesmo traga as marcas do sucesso e que, como já
frisamos, tenha visibilidade. Por essa razão, o vaidoso não se cansa
de se perguntar: “O que os outros enxergam em mim?” “Será que
gostam do que veem?” Esse narcisismo não suporta o anonimato.
Na adolescência, tais aspectos parecem pesar mais, o que não
significa que nós, adultos, tenhamos conseguido nos livrar desse
narcisismo. De qualquer maneira, queremos chamar a atenção para
a perda de autonomia gerada com esse processo, em que o padrão
de individuação se dá com base em aspectos que dispensam as
faculdades do julgamento.
Os aspectos acima tratados se ligam àqueles presentes em
nossa cultura marcada por um espírito hedonista, na qual a ideia de
felicidade se viu condicionada ao gozo imediato. Ao tratar do modo
como os indivíduos se comportam, no cenário moral contemporâneo,
afirma Costa (2004, p. 194) que, “para muitos indivíduos, desejável
é o que pode ser sensorialmente experimentado como agradável,
prazeroso ou extático; indesejável é o que pede tempo para se realizar
ou que, ao se realizar, não excita ou traz o gozo sensorial esperado.” E,
logo abaixo, continua o autor: “toda norma moral exige um dízimo em
gozo.” Nessa cultura que se alimenta do estímulo ao gozo, perdemos
a capacidade de negociar, portanto, de postergar a realização de
nossos desejos. Daí parece decorrer também a incapacidade de
muitos em lidar com a frustração. O espírito de sacrifício, como nos
lembram Khel (2004) e La Taille (2009), tão identificado em outros
tempos com a força de vontade e com a necessidade de se adiar
determinadas gratificações, já não faz muitos adeptos. Disso advém,
por conseguinte, que a nossa afetividade não se regularia tanto pela
razão, mas pelo prazer que os acontecimentos nos proporcionam. O
espírito de sacrifício, o ter força de vontade são atitudes, hoje, quase
impensáveis. Nenhum prazer pode ou deve ser preterido em nome
de uma realização futura e duradoura, visto que nossas disposições
afetivas dirigem momentaneamente nossas vidas. Ressalta Costa
(1998a, p. 21): “Hoje entramos na Era das Sensações, sem memória
e sem história. Nada nos parece mais bizarro e tedioso do que
aventuras sem orgasmos e sofrimentos sem remédio à vista.” O lema