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Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
C
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. 9,
n
. 22,
p
.175-192
maio
/
ago
. 2014.
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os estressados, os quais despendem energia de maneira desregrada;
os obesos, os sedentários, os envelhecidos, os fumantes, enfim, todos
aqueles que não entraram na onda da grande saúde, das próteses de
silicone e cirurgias plásticas. Estes são os fracassados, porque não
souberam impor ao corpo a vontade. Por essa razão, ressalta Costa
(2004), devem se sentir doentes e ao mesmo tempo culpados por não
atingir as metas e medidas do corpo saudável. De qualquer forma,
nada está perdido, pois ainda é tempo de correr atrás do corpo da
moda, mesmo que o preço a pagar para atingi-lo seja a angústia, a
ansiedade e o sofrimento.
Essa cultura que beneficia a moral do corpo e das sensações,
em detrimento da moral dos sentimentos, conforme escreve Costa
(2004), acabou por privilegiar aspectos da aparência física e da
vontade, portanto, expondo os indivíduos ao olhar e ao julgamento
dos outros. É como se a intimidade dos indivíduos fosse exposta, sem
que tivessem feito essa escolha. Já não se escolhe mais a quem revelar
sua intimidade, porque ela se revela no corpo. “O corpo se tornou
a vitrine compulsória de nossos vícios e virtudes, permanentemente
devassada pelo olhar do outro anônimo” (p. 198). Dessa situação
decorre o que o autor denomina “desconfiança persecutória”, pois
ou somos invejados pelo corpo que portamos ou nos sentimos mal
diante do olhar do outro, que parece nos acusar e humilhar por não
trazermos no corpo as marcas do cuidado e da saúde. Isso nos torna
sensíveis não só ao olhar do outro, mas a qualquer comentário que
se faça acerca da nossa aparência física, uma vez que, sem a boa
forma corporal, comenta Costa (2004), não podemos participar do
clube dos vencedores.
Assim, somos sempre dependentes do olhar dos outros e da
imagem que eles constroem ou exigem de nós. O investimento na
imagem passa a ser algo que ganha as cores da obsessão, pois o
que importa é a construção de imagens positivas de nós mesmos.
O problema é que a busca por essa imagem positiva, como alerta
La Taille (2009), nem sempre está associada a valores morais. Em
nossos dias, por exemplo, essa imagem parece vincular-se ao sucesso
e ao ser admirado, e não a valores tais como justiça, generosidade,
solidariedade e respeito ao outro. Dessa forma, estaríamos hoje,
salienta o autor, mais propensos a nos identificar com uma cultura
da vaidade, cuja preocupação está em alcançar o reconhecimento
e admiração do outro. Por isso, “o vaidoso cuida do espetáculo que