Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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.175-192
maio
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. 2014.
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em razão das profundas mudanças ocorridas no âmbito da cultura.
A fragilidade dessa relação se evidencia, principalmente, quando
somos desafiados a pensá-la na atualidade, momento em que a
educação escolar parece não ser tão determinante na formação
moral dos indivíduos. Pelo menos não é determinante, se pensada
nos moldes postulados pela tradição, enquanto lugar privilegiado
para se transmitir valores. Se, tradicionalmente, se admitia, ressaltam
Goergen (2001) e Valle (2001), que cabia à escola e aos professores
a função de inserir as novas gerações no universo dos valores e
formas de comportamentos legitimados socialmente, com a crise dos
valores tradicionais, acirram-se as suspeitas quanto à possibilidade
de a escola ainda cumprir essa função.
Este breve diagnóstico a propósito da fragilidade dos vínculos
entre ética e educação não invalida o esforço em pensar a educação
escolar como um dos lugares, ao lado de outras instituições sociais,
em que se dá a formação em valores morais. Mas nessa tarefa, como
descreve Goergen (2001, p. 152-153), a ideia do agir correto não
pode ser dada em forma de prescrições, muito menos a educação
pode desenvolver nos alunos um conjunto de disposições acabadas,
como garantia de modos de agir. O que se pode fazer por meio
da educação é despertar os alunos para modos de agir moral, os
quais demandam um processo pedagógico que favoreça formas
reflexivas de comunicação, as quais possibilitem testar proposições
morais em contextos culturais determinados. Portanto, requer-se
um clima cultural e social que favoreça o desenvolvimento de tais
disposições.
Nesse sentido, a formação ética/moral baseia-se numa
intencionalidade do agir e comporta uma reflexão sobre os valores.
É nesse sentido, conforme escreve Vaz (1988), que a ética (
ethos
)
é definida como morada do homem, lugar seguro construído pelo
próprio homem a partir das normas, das leis e dos costumes. A ética
constitui um saber racional, com base no qual se distingue o bem do
mal. Além disso, a ética (
ethos
) porta, ainda, outro sentido enquanto
comportamento que resulta da repetição dos mesmos atos, do hábito
em praticá-los e que forma o caráter de cada indivíduo e tem por
base os costumes. O sujeito moral se distingue pela capacidade de
deliberação e escolha acerca dos valores morais. É nesse ponto,
ressalta Boto (2001), que se dá a confluência entre ética e ação
pedagógica como lugar da formação da autonomia da vontade.