Do conceito de formação humana... -
Lúcia Schneider Hardt
et al.
168
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. 9,
n
. 22,
p
.155-174
maio
/
ago
. 2014.
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coragem, vaidade que adornamos com a moral e também com
a cultura. Precisamos dos adornos, contudo precisamos saber o
que cobrem nossos depósitos mais baixos e humanos, demasiado
humanos. Precisaremos de máscaras, de acessórios para estar
no mundo, queremos alcançar uma medida, cada um a sua, cuja
trajetória arrancada das disputas entre natureza e cultura deixa
rastros de nosso crescimento e nossa autossuperação. Aprender
a lutar contra a vida e suas forças sem aniquilá-la é o que
devemos fazer. Paul van Tongeren, no texto “Medida e Bildung”6
inicia sua argumentação apresentando a crítica de Nietzsche ao
termo Bildung para destacar a dimensão esquecida entre vida
e conhecimento, fazendo nascer outra ideia de Bildung. Nesse
ponto, destaca a ideia de medida dos gregos, conceito essencial
na filosofia de Nietzsche. Uma medida que não é igual para todos
e não será a mesma para todas as circunstâncias. Nesse ponto,
acontecem o crescimento e autossuperação. A vida é vontade de
potência, disputa lugar e tempo, precisa de uma medida para
estar no mundo. Rejeita qualquer dogmática e qualquer ausência
de medida. Assim, a crítica nietzschiana da cultura não produz
oposição simplesmente e muito menos o laissez faire. Ficar fora
da vida, do mundo, da disputa, da cultura impede o humano de
fazer-se presente e, nesses termos, nada menos nietzschiano.
Assim, segundo Tongeren, a ideia de formação em Nietzsche exclui
qualquer “posição oscilante entre indiferença e utilidade”. Nesse
ponto, voltamos ao tema dos valores, que remetem à criação para
dar terreno à possibilidade da diferença – aquela das medidas
singulares que também pode alcançar legitimidade. A medida
singular, criada na força das tensões, nasce para colocar-se no
mundo e agir.
Formação não pode ser, então, qualquer tipo de nivelamento
e uma educação nesses termos deseja estimular nosso encontro
com as tensões entre natureza e cultura para produzir atos
criativos capazes de apresentar adornos estéticos entre vida e
conhecimento. A vida mesmo nos força a estabelecer valores, e
desse ponto até o que é mais frágil e covarde foi concebido por
um valor. Disso resulta que os valores também se enfrentam para
decidir o que fazer, declinar, enfraquecer, cansar, condenar.
6 O artigo foi analisado a partir da crítica da obra de Thomas E. Hart (Nietzsche, cultura
e educação) escrito por Vânia Dutra Azeredo (2010).