Do conceito de formação humana... -
Lúcia Schneider Hardt
et al.
162
C
adernos
de
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esquisa
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ensamento
E
ducacional
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,
v
. 9,
n
. 22,
p
.155-174
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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visto pelo filósofo genebrino. De início, o seu uso aplica-se a um
vasto domínio que vai da imensidão do mundo físico até os confins
do mundo intelectual e moral. Depois, para a decepção dos próprios
intelectuais iluministas, o conceito não é claro e, segundo Paul
Hazard, não há um consenso quanto ao seu entendimento (1934,
p. 201-2) e (1983, p. 269 e ss).
De qualquer modo, o século XVIII via na natureza a origem e
o fundamento imanente da verdade, uma fonte legítima de certezas
e evidências e foi partindo dessa premissa que Rousseau definiu a
“natureza” como tudo aquilo que vem antes do hábito. Diante disso,
como preservá-la mediante o inevitável processo de socialização pelo
qual todos os homens deverão passar? É nesse plano que a educação
aparece como uma das modalidades ou manifestações humanas mais
relevantes e complexas do processo de formação.
Essa natureza está na espécie e em cada um dos indivíduos,
sendo simultaneamente universal e particular e há que primeiramente
ser sentida e descoberta pelas forças corporais e espirituais como
tal para, a partir daí, não ser afugentada ou mesmo soterrada
pelas forças da cultura. A formação humana e sua tradução
especificamente educativa aos moldes rousseaunianos é vista, dessa
forma, como realização dos desígnios da própria natureza. E, em
termos mais amplos, como um diálogo profícuo entre a natureza e
a cultura.
Mas, para que nos aproximemos um pouco mais da complexa
relação estabelecida por Rousseau entre natureza e cultura, é preciso
que enfrentemos a difícil tarefa de compreender, juntamente com
Jacques Ulmann, que o papel da educação é o de atualizar a própria
natureza humana considerando as condições reais da sociedade
degradada e de suas instituições que não bem “desnaturam” o
homem, ou seja, o de “realizar uma natureza impedida”, já que
“a natureza humana inicialmente está finalizada até as suas
profundezas, mas chega um momento em que esta finalidade cessa
de ser perfeita, se desarranja, se quisermos” (1987, p. 45). Tal
finalidade, coberta por aluviões sociais, não se atualiza socialmente
como deveria.
O desequilíbrio provocado pelas instituições sociais que não bem
desnaturam o homem não para por aí. É preciso considerar que não
escutar a voz da natureza e fugir angustiadamente para um futuro
ilusoriamente projetado encontra, nos excessos da faculdade racional,