Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 171

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Do conceito de formação humana... -
Lúcia Schneider Hardt
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. 22,
p
.155-174
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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o indivíduo nobre e magnânimo. Esse possui alguns
sentimentos de prazer e de desprazer tão fortes, que
o intelecto tem de silenciar ou de servi-los: o coração
lhe toma o lugar da cabeça e fala-se de “paixão”.
(NIETZSCHE, 2001, p. 56)
Estamos sempre diante de uma espécie de desrazão com
aquilo que nos seduz, antes que possamos dizer sim ou não: pode
ser um sonho, uma vontade, uma pessoa, o conhecimento. Por
trás de uma tirania do desejo está o bom gosto de nossa primeira
natureza e que tomada em sua intensidade para sofisticá-la em
todo seu poder nos faz menos vulgares, nos encoraja a encontrar
medidas para outra formação. Produz cultura sem massificar a
potência. A peculiar medida de valor que somos capazes de criar
quando não damos as costas à nossa própria natureza. Segundo
Nietzsche, toda sociedade excessivamente regrada faz adormecer
as paixões e com isso vulgariza nosso gosto. A servilidade mais
sutil é aquela que acaba por decidir que deve obedecer ao
incondicionado E por seguir regras que, de tão plenas, devem
ser mantidas independente das condições, das perspectivas, das
tensões. Acompanhando ainda nosso filósofo, cabe lembrar:
“todos nós temos jardins e plantações ocultas em nós; e, numa
outra imagem, somos todos vulcões em crescimento, que terão
sua hora de erupção”, e nesse tensionamento está a grande
oportunidade de criar beleza, da mais singela a mais sofisticada,
como a produzida pelo Renascimento. Assim, em diálogo com
Nietzsche, aprendemos sobre formação, cultura e natureza. Outras
auroras pedagógicas podem nascer desse assombro
7
diante de
nossa natureza e, ao mesmo tempo, nossa alegria em tomá-la de
tantas formas possíveis a ponto de atestar que formação é por fim
e ao cabo, como diz Viesenteiner (2014), uma somatória unitária
de
erlebnisse
(vivências). Sem desprezar nada do que fomos, do
que vivemos, todas as formas são possíveis, somos, por fim, uma
somatória de formas, que jamais findam. Diante delas, o riso se
faz necessário para alcançar uma leveza que encoraja, pois somos
sempre ainda “animais não determinados”.
7 Sobre o tema do assombro, ver Hardt (2013).
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