Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 165

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Do conceito de formação humana... -
Lúcia Schneider Hardt
et al.
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. 22,
p
.155-174
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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favoráveis, tanto no âmbito da espécie quanto no terreno das
individualidades.
Contudo, a ideia de
educação
, conforme já indicamos, pode
aparecer numa segunda acepção, agora como extensão de uma
cultura que se opõe à natureza.
Tanto na pequena região de Vaud, cantão suíço e cenário para
o romance epistolar
Júlia ou a Nova Heloísa
, quanto nos prados nos
quais cresce Emílio e, principalmente, nos cenários dos
Devaneios
do Caminhante Solitário,
o convite de Rousseau parece ser o de
abandonar o universo da cultura, que associa ao da maldade.
Contemos com o apoio das palavras de Hauser:
A verdadeira originalidade de Rousseau consistiu em
sua tese, tão monstruosa em suas implicações para o
humanismo iluminista, de que o homem culto é um
degenerado e toda a história da civilização uma traição
de destino original da humanidade, de que, portanto, a
doutrina básica do iluminismo, a crença no progresso,
quando analisada em detalhe, não passa de uma
superstição. (1995, p. 570)
Natureza e cultura excluem-se, já que associados estão a
processos ilegítimos de socialização, à exclusividade da razão
como guia seguro de pensamento e de ação, à confiança cega no
progresso que, inevitavelmente adviria do cultivo das “luzes”. Todas
essas escolhas fabricantes do homem cindido entre seus desejos e
os deveres encontram-se liquefeitas, se movidas por uma harmonia
entre o que vem de dentro (natureza) e o que vem de fora (cultura
e educação), em benefício de demarcados fins, dentre eles o da
também utópica superação das contradições humanas. Ainda assim,
mesmo que esse exercício analítico esclareça parte da questão da
contradição entre natureza e cultura, permanece a fertilidade da
aparente falta de rigor no emprego de ambas as forças formativas.
Depois de Rousseau, seguimos comNietzsche para compreendê-
lo, desde sua abordagem sobre as tensões existentes entre natureza
e cultura. Ressaltemos, entretanto que avaliar, em qualquer
circunstância, significa o uso de valores, não existe inocência em
avaliação. Avaliação é interpretação, perspectivismo, disputa por
lugares e espaços, pois, interpretar algo implica pôr-se na coisa em
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