Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 186

Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
186
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. 22,
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.175-192
maio
/
ago
. 2014.
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instantânea aos violentos estímulos do tempo presente, seríamos
consumidos pelo registro das vivências (
Erlebnis
) que representa a
dimensão empobrecida da vida do espírito. De toda forma, o que
nos interessa é destacar a imbricação que há entre competitividade
e temporalidade, no capitalismo contemporâneo, e o modo como
limitam a nossa experiência no presente e as possibilidades de
resistência a tudo isso.
Ao insistirmos na descrição desses aspectos, não tivemos
outro objetivo senão enfatizar o quanto é desafiadora e complexa
a atividade de se pensar a educação ética, na escola ou fora dela.
Diante desse quadro, nós nos perguntamos: como falar em formação
ética, se estamos mergulhados numa cultura que traz as fortes
marcas do cinismo, da valorização do corpo como espelhamento
do sucesso? Como falar em virtudes como justiça e honestidade,
se o que mais aparece da política é a corrupção? Como falar em
virtudes, se quem goza de admiração pública é a elite fraudulenta?
Como pensar em formação ética, se o cultivo de si, enquanto cultivo
de sentimentos morais e de virtudes, foi transformado em cuidado
doentio do corpo? Ao levantarmos essas perguntas, o nosso intuito
não é promover a desistência de uma formação ética/moral, mas
ressaltar que isso exige da escola e de nós, professores, mais do que
boa vontade ou a repetição de bordões ou fórmulas mágicas de como
deve se dar a relação entre ética e educação, conforme nos adverte
Valle (2001). No tópico a seguir, o nosso intuito será sugerir o “tato
pedagógico”, a conversação e a narrativa poética como lugares em
que podemos estimular a ideia do cuidado e do cultivo de si, como
formas de resistência ao nosso presente.
E
ducação
,
conversação
e
tato
pedagógico
Com o diagnóstico que acima apresentamos, o nosso intento
foi explicitar alguns aspectos da nossa cultura que entendemos
dificultam a tarefa da escola na formação ética/moral dos alunos.
Não deve ser lido como um diagnóstico que se pretende exaustivo,
mas apenas como uma possibilidade de leitura acerca daquilo que
nos intriga, nessa empreitada de pensar os vínculos entre ética
e educação. A nossa tentativa, nesta última parte do texto, será
pensar de que maneira podemos tratar da formação ética na escola,
tendo em vista que o mundo extrapedagógico exerce sobre ela
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