A Filosofia da Educação e a maquinaria escolar... -
João Paulo Pooli
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.193-205
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. 2014.
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Os processos de escolarização atuais são muito recentes,
remetendo-os mais ou menos ao século XIX. A filosofia da
educação está diretamente vinculada à fundação da escola
moderna e apoiada sobre os pilares da filosofia racionalista
do século XVI, que gradualmente substituiu a teologia cristã
pelo racionalismo das ciências nesse período. A teologia da
igreja católica foi perdendo sua centralidade enquanto principio
orientador da vida cotidiana, e substituída pelos fundamentos da
racionalidade moderna. Essa transição exigia que se inventassem
novas tecnologias de controle, disciplinamento, orientação e
instrumentalização específicas, para atender às exigências
configuracionais da emergente organização social.
De forma muito apropriada, Julia Varela e Fernando Alvarez-
Uria (1996), através de uma análise genealógica, avaliam que
a substituição da escolástica medieval possibilitou a invenção
de uma maquinaria escolar, que pretendeu dar conta das novas
configurações do mundo moderno. Para Marx & Engels (1980),
tudo o que era sólido e estável se esfumou, através da economia
capitalista, da invenção do Estado moderno, da ascensão da
burguesia ao poder e da supremacia da razão.
Para atender às aspirações e necessidades objetivas da
modernidade, novas instituições cuidarão do disciplinamento, do
controle e da educação (hospitais, hospícios, quartéis, albergues
colégios etc.). Nesse contexto, as instituições escolares são
pensadas, estruturadas, organizadas e planejadas como forma
de socialização privilegiada das crianças e jovens. A efetiva
consolidação da escolarização pública e obrigatória a partir de
meados do século XIX, carregou um conjunto de “filosofias”, que
procuravam interpretar e instituir a nova sociedade e um novo
homem. Desde Descartes, passando por Erasmo, Montaigne,
Comenius, Hobbes Rousseau e Kant, entre outros, o projeto
iluminista da escola foi se constituindo como tecnologia de
formação, instrução, educação, moralização, socialização,
disciplinamento e controle. Mas não parou por ai: a escola
incorporou na contemporaneidade novas funções como a produção
da liberdade individual, da autonomia, da democratização, da
emancipação, da cidadania e da igualdade. Com todos esses
atributos, a escola é hoje um lugar privilegiado de produção e
reprodução cultural.