Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 196

A Filosofia da Educação e a maquinaria escolar... -
João Paulo Pooli
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. 2014.
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podem levar a um novo ordenamento educativo, “salvando” o sujeito,
mediante uma formação declaradamente emancipatória, reflexiva,
autônoma, democrática, cidadã, igualitária e/ou humanística. Ou
seja, sua estratégia de avanço é um retorno a uma racionalidade
iluminista muito próxima da idealização kantiana das funções da
educação moderna.
Acredito ser desnecessário ficar
comprovando
esse fato através
de incontáveis citações contidas em publicações acadêmicas e
livros que criticam a educação. Parafraseando Michel Foucault:
não
interessa e pouco importa quem o disse ou quando foi dito, o que
interessa é o funcionamento dos enunciados
(2003, p. 124) e, nesse
sentido, apesar de toda a produção especializada que analisa e
critica a escolarização das crianças e jovens, os discursos continuam
a operar através da produção de regimes de verdade sustentados
pelos princípios da racionalidade moderna.
O discurso iluminista na educação acontece por meio de
um jogo de palavras, muitas vezes bem articuladas e outras vezes
completamente vazio de sentido. Por exemplo, a partir da seleção
de palavras como educação, autonomia, emancipação, democracia,
liberdade, crítica, conscientização, valores e cultura, os especialistas,
constroem inúmeros textos sem, no entanto, acrescentarem quase
nada de novo ao que estava posto anteriormente. Pouco importa
como essas palavras estejam arranjadas, elas tratam circularmente
do mesmo tema, variando apenas o local, a comunidade, a escola,
o governo ou a cultura. Em muitos textos que se colocam no campo
pós-moderno, pós-estruturalista, assistimos essa mesma lógica
funcionar estruturados com outras palavras como: globalização,
desconstrução, neoliberalismo, poder, subjetividade, gênero,
consumo, heterogeneidade, desterritorialização, tecnologias ou
virtualidade.
A partir dessas constatações, poderíamos supor que esse
modelo de filosofia da educação seria improdutivo ou estéril, já
que não produziria uma transformação das práticas pedagógicas
nas escolas como consequência de um pensamento crítico. O
que argumento, principalmente a partir de Michel Foucault é que
justamente ali está a imensa produtividade da filosofia iluminista;
essa produtividade é a que mantém através de seus dispositivos e
tecnologias de disciplinamento e controle a maquinaria escolar. Ou
seja, uma boa parte do chamado pensamento crítico reflexivo sobre
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