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Ética, educação e desafios contemporâneos -
Divino José da Silva
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. 9,
n
. 22,
p
.175-192
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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para ser compreendido. É nesse sentido que, para Bárcena (2005),
a narrativa poética transforma a práxis educativa numa instância na
qual os argumentos abstratos e universais cedem lugar às situações
particulares, que podem ser lidas numa perspectiva hermenêutica,
como lugar do diálogo e da conversação. De acordo com Bárcena, a
conversação é o lugar do acontecimento, pois não há como controlá-
la e nem prever o que decorrerá daí. O interesse da conversação não
é produzir o consenso, mas as inflexões, divergências, à semelhança
das aporias socráticas. Ela constitui o lugar privilegiado onde podemos
fazer experimentos com a linguagem, podemos ouvir outras vozes
e conhecer dimensões do outro que antes não percebíamos e que
conduzem a um pensar diverso.
A prática pedagógica, concebida enquanto conversação, requer
uma capacidade de julgar que não se antecipa aos fatos, porém, que
tem a ver com a sensibilidade do educador que sabe atribuir sentido
àquilo que escapa ao entendimento. Logo, para Bárcena (2005, p.
181), “o juízo pedagógico seria uma faculdade estética, um elemento
sensível que, dentro da ação, nos ajuda a ver o que fazemos.” A
essa capacidade de julgar o autor a denomina tato pedagógico. Ela
exige a sensibilidade de quem julga, no contexto educacional, não
do educador, mas também dos educandos que aprendem com essas
práticas que favorecem o exercício da autonomia e da capacidade de
julgar, os quais podem barrar práticas autoritárias e impedir que os
indivíduos se identifiquem com práticas cruéis. Esse exercício do julgar
pressupõe a compreensão, o trabalho do confronto, da depuração
do pensar, em que se torna possível distinguir o bem do mal.
O tato pedagógico, salienta Bárcena (2005), requer uma
percepção consciente articulada à expressão estética, pois só assim
se pode evitar agressões e ofensas, ao mesmo tempo em que se
alimenta o respeito e o reconhecimento do outro. Por essa razão, o
tato requer o cuidado, a atenção e a solicitude. Enfim, exige uma
maneira de olhar que esteja atenta à singularidade das situações.
Podemos enfatizar que o tato pedagógico é uma maneira de
humanizar a relação pedagógica, que demanda o combate à frieza,
ao mesmo tempo em que pede o exercício da alteridade. O tato
pedagógico cobra um reaprendizado do cuidado com o outro, mas
ele requer, como nos ensina Foucault (2004), na
Hermenêutica do
sujeito
, o cuidar de si que envolve o cultivo de si, o desenvolvimento
da capacidade julgar e de se reinventar na práxis.