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Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
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. 9,
n
. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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a realização de atividades essenciais à própria constituição do sujeito,
isto é, à apropriação subjetiva da cultura, que envolvem diretamente
a capacidade de realizar experiências.
Em uma importante passagem de Benjamin, há um elogio
ao tédio, pois é ele que permite aquela assimilação profunda da
experiência, a qual, por sua vez, requer um momento de distensão:
... se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o
tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica. O tédio
é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência.
O menor sussurro nas folhagens o assusta. Seus ninhos
– as atividades intimamente associadas ao tédio – já se
extinguiram na cidade e estão em vias de extinção no
campo. (BENJAMIN, 1985b, p. 205).
Adorno compartilha dessa ideia a despeito das críticas que
remete ao conceito de tédio como parte da sociedade capitalista,
para a qual tal estado se torna essencial. A possibilidade de se fazer
experiências, pelo contrário, não exige o tédio nesse sentido, mas
entendido como um tempo de ociosidade, diferentemente daquele
“tempo livre” que na sociedade do trabalho alienado é apenas fuga.
Não se trata, portanto, da busca desesperada por diversão ou qualquer
outro passatempo que livrasse o indivíduo da sensação de estar todo
o tempo realizando uma atividade mecânica, mesmo nas horas
em que não está no seu trabalho, mas de um estado isento dessas
preocupações, em que se pudesse permanecer em uma atividade sem
reproduzir os mecanismos da indústria cultural e, principalmente, no
qual fosse possível uma atitude de resistência. Como assevera Adorno
no ensaio
Tempo livre
, no qual o tema reaparece, “o tédio existe em
função da vida sob a coação do trabalho e sob a rigorosa divisão do
trabalho. Não teria que existir. Sempre que a conduta no tempo livre
é verdadeiramente autônoma, determinada pelas próprias pessoas
enquanto seres livres, é difícil que se instale o tédio. [...] Tédio é o
reflexo do cinza objetivo.” (ADORNO, 1995, p. 76).
Tanto em
Minima Moralia
quanto
Tempo livre
, a crítica
de Adorno ao conceito de tédio dirige-se, especialmente, a
Schopenhauer. A ética schopenhauriana repousa sobre a constatação
de que a vontade, sendo a essência da vida e, portanto, um constante
querer viver
, faz de qualquer existência um completo sofrimento, já