Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 115

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Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
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.109-130
maio
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. 2014.
Disponível em <
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romance foi a forma literária específica da era burguesa.” (ADORNO,
2003, p. 55).
Outra concordância com Benjamin se expressa na perda
da experiência. Para este, a guerra, por exemplo, é o caso de
uma experiência tão radical que sequer pode ser narrada. Tal
impossibilidade diz respeito ao fato de a guerra ser constituída sob
uma sequência atemporal de choques que solapam o tempo de
elaboração, impedem o trabalho da memória e, portanto, também
da experiência, afinal,
... quanto maior é a participação do choque em cada
uma das impressões, tanto mais constante deve ser
a presença do consciente no interesse em proteger
contra os estímulos; quanto maior for o êxito com
que ele operar, tanto menos essas impressões serão
incorporadas à experiência, e tanto mais corresponderão
ao conceito de vivência. (BENJAMIN, 1994, p. 111).
Prossegue Benjamin no mesmo registro, mas em outro texto:
... no final da guerra, observou-se que os combatentes
voltavam mudos do campo de batalha não mais ricos,
e sim mais pobres em experiência comunicável. E o
que se difundiu dez anos depois, na enxurrada de
livros sobre a guerra, nada tinha em comum com
uma experiência transmitida de boca em boca. Não
havia nada de anormal nisso. Porque nunca houve
experiências mais radicalmente desmoralizantes que
a experiência estratégica pela guerra de trincheiras, a
experiência econômica pela inflação, a experiência do
corpo pela guerra de material e a experiência ética pelos
governantes. (BENJAMIN, 1985b, p. 198).
Também Adorno atribuiu à guerra esse momento em que não há
espaço para uma experiência efetiva. Como Benjamin, a guerra seria
um momento particular em que se perde a capacidade de narrar os
acontecimentos, dada a incompatibilidade entre a dimensão em que
os estímulos são recebidos e a capacidade do indivíduo em assimilá-
los. Tal desproporção torna impossível reproduzir aquilo pelo qual o
indivíduo passou. Como afirma Adorno:
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