Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 110

Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
110
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. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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traços de uma totalidade que se transforma em totalitarismo. Nesse
contexto, o enfraquecimento da subjetividade que impele cada um à
mera adaptação ao existente, no que jogam um papel fundamental
os esquemas da indústria cultural, está relacionado com certa
incapacidade de se realizar experiências.
O presente texto se ocupa dessa questão, comentando o
conceito de experiência em Benjamin e como ele é retomado por
Adorno em novo registro, o de uma vida danificada, para então
observar algumas das suas consequências para a expressão
educacional da indústria cultural, a semiformação.
4
1. D
o
conceito
de
experiência
(E
rfahrung
)
Os ensaios
Experiência e pobreza
(BENJAMIN, 1985a) e
Sobre
alguns temas emBaudelaire
(BENJAMIN, 1994), escritos por Benjamin
respectivamente em 1933 e 1939, trazem importantes elementos
que formarão um conceito de experiência que será retomado por
Adorno de maneira muito semelhante. De alguma forma neles se
distinguem, especialmente no primeiro, experiência (
Erfahrung
) e
vivência (
Erlebnis
), principalmente pela relação de cada uma delas
com a memória e os destinos do sujeito. Para Benjamin, “onde há
experiência no sentido estrito do termo, entram em conjunção, na
memória, certos conteúdos do passado individual com outros do
passado coletivo.” (BENJAMIN, 1994, p. 107).
A experiência não é somente a recepção imediata de estímulos externos,
mas um processo que envolve a memória e que faz com que os elementos
apreendidos se relacionem com o passado individual e se integrem à vida
do sujeito. A experiência é aquilo cujo conteúdo se conserva na memória,
que é elaborado, mediado, mas não exatamente pela consciência. Esta se
relaciona mais com a proteção contra os excessos de excitações provenientes
do mundo exterior, barreira a suavizar algo vivenciado intensamente, como
um golpe, e que não pode, por isso, ser imediatamente assimilado. Para
Benjamin, as transformações vividas na modernidade, tendo como palco
privilegiado as grandes cidades, com seus estímulos, desafios e ritmos
4 O artigo desenvolve uma parte da dissertação de Mestrado em Educação de Franciele
Bete Petry (2007), intitulada Indústria cultural, subjetividade e formação danificadas na
Dialética do Esclarecimento e em Minima Moralia, e retoma, secundariamente, aspectos
da tese de Doutorado em Educação de Jaison José Bassani (2008), cujo título é Corpo,
educação e reificação: Theodor W. Adorno e a crítica da cultura e da técnica. Os autores
agradecem à CAPES, à FAPESC, ao DAAD e ao CNPq pelas bolsas recebidas, bem como
ao CNPq pelo extenso apoio ao Programa de Pesquisas Teoria Crítica, Racionalidades e
Educação (IV), do qual este trabalho é também resultado.
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