Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 113

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Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
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.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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... na substituição da antiga forma narrativa pela
informação, e da informação pela sensação reflete-se
a crescente atrofia da experiência. Todas essas formas,
por sua vez, se distinguem da narração, que e uma das
mais antigas formas de comunicação. Esta não tem
a pretensão de transmitir um acontecimento, pura e
simplesmente (como a informação o faz); integra-o
à vida do narrador, para passá-lo aos ouvintes como
experiência. Nela ficam impressas as marcas do
narrador como os vestígios das mãos do oleiro no vaso
de argila. (BENJAMIN, 1994, p. 107).
Essa relação entre experiência, narrativa e o ritmo do trabalho
manual – típico, portanto, de modos pré-capitalistas de produção –,
é igualmente enfatizada no texto
O narrador,
inclusive com a mesma
alusão às marcas que as mãos do oleiro deixam gravadas em seu
artesanato (BENJAMIN, 1985b, p. 205).
Como mostra Benjamin, a experiência não é comunicável em
um sentido trivial. Ela exige mais: precisa ser comunicada, mas não
imediatamente, constituindo-se como tal na medida em que puder
ser apreendida e integrada à própria vida. Gagnebin (1985) indica
três condições objetivas que, segundo o filósofo, seriam necessárias
para a transmissão de uma experiência: a experiência transmitida
pelo relato tem que ser comum tanto ao narrador quanto ao ouvinte,
a comunidade entre vida e palavra que existe, por exemplo, na
atividade artesanal, e, finalmente, a comunidade da experiência que
funda a dimensão prática da narrativa tradicional. Essas condições
desapareceram na sociedade capitalista, marcando o declínio
da narrativa assim como da experiência. A primeira significa que
deveria haver uma forma de vida na qual seria possível compartilhar
a experiência, ou seja, que houvesse, por exemplo, a autoridade a
dar conselhos e alguém que os pudesse receber, porque tal fato
pressupõe que a forma sob a qual tanto o narrador quanto o ouvinte
existem seja a mesma. Na sociedade capitalista, há um abismo entre
gerações que impede essa transmissão. É por isso que Benjamin
(1985a, p. 114) questiona: “que moribundos dizem hoje palavras tão
duráveis que possam ser transmitidas como um anel, de geração em
geração? Quem é ajudado, hoje, por um provérbio oportuno? Quem
tentará, sequer, lidar com a juventude invocando sua experiência?”
As indagações são pertinentes: em uma sociedade em que há uma
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