Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
114
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. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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aceleração do ritmo da vida e na qual a técnica avança cada vez
mais causando mudanças no comportamento e nas concepções
sobre o mundo, torna-se difícil assimilar as alterações e manter uma
proximidade com as pessoas nascidas em uma geração anterior
ou posterior. Como diz Gagnebin, “enquanto no passado o ancião
que se aproximava da morte era o depositário privilegiado de uma
experiência que transmitia aos mais jovens, hoje ele não passa de
um velho cujo discurso é inútil.” (GAGNEBIN, 1985, p. 10.)
Segundo Benjamin (1985b, p. 204), “esse processo de
assimilação se dá em camadas muito profundas e exige um estado
de distensão que se torna cada vez mais raro”, ou seja, para que uma
história realmente tenha efeito sobre a vida do ouvinte não basta que
ele a escute, mas é preciso que ela seja associada às suas ações,
à sua história, seja absorvida e lembrada e contada novamente,
mantendo, dessa maneira, a tradição em que está inserida.
A última condição para a possibilidade da narrativa é que a
experiência transmita, também, uma sabedoria útil aos que a ela têm
acesso. A natureza da narrativa, de acordo com Benjamin (1985b, p.
200), é que “ela tem sempre em si, às vezes na forma latente, uma
dimensão utilitária. Essa utilidade pode consistir num ensinamento
moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa
norma de vida – de qualquer maneira, o narrador é um homem que
sabe dar conselhos”.
3. B
enjamin
em
A
dorno
,
sobre
experiência
Em texto do final da década de 1950, intitulado
Posição do
narrador no romance contemporâneo,
Adorno (2003) “subscreve” as
considerações acima expostas defendidas por Benjamin. A influência
que este teve sobre o primeiro é explícita, pois o texto faz a mesma
contestação em relação à situação de perda da forma narrativa.
Adorno também aceita o fato de que assim como a forma narrativa
perde espaço para a forma do romance, também a experiência, que só
pela primeira era possível de ser comunicada, vai se perdendo e no seu
lugar apenas vivências fragmentárias e isoladas passam a fazer parte
da vida do indivíduo.
Em referência à posição do narrador, Adorno
diz: “ela se caracteriza, hoje, por um paradoxo: não se pode mais
narrar, embora a forma do romance exija a narração” (ADORNO,
2003, p. 55) e, também em acordo com Benjamin, defende que “o