Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 121

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Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
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. 9,
n
. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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Adorno estivesse se referindo naquele texto à Segunda Guerra
Mundial, podemos relacionar suas análises aos “espetáculos”
televisivos da Guerra do Golfo em 1991, e da Guerra do Iraque,
em 2003, com hora e local marcados para acontecer, como um
programa de “entretenimento”, como os esportivos e de auditório
(BASSANI; VAZ, 2008):
... o completo encobrimento da guerra através da
informação, da propaganda e dos comentários, a
presença de operadores filmando nas primeiras linhas
dos tanques e a morte heróica dos repórteres de guerra,
a mistura confusa de esclarecimento manipulador da
opinião pública e ação inconsciente, tudo isso é uma
outra expressão para o definhamento da experiência,
o vácuo entre os homens e sua fatalidade, no qual
consiste propriamente a fatalidade. A cópia calcificada
e reificada dos acontecimentos acaba, por assim dizer,
por substituir estes mesmos. Os homens são rebaixados
a atores de um monstruoso documentário, para o qual
[não] há mais espectadores, pois todos, até o último,
tomam parte na ação que se passa na tela. (ADORNO,
1993, p. 46).
A referida unidade, que se perde não apenas na guerra, mas
também na vida cotidiana, era o requisito para a narrativa que dá
forma à experiência e que se perdeu com o avanço desmensurado
da posição da técnica na sociedade contemporânea. Para Adorno,
tal situação é constitutiva da sociedade capitalista, especialmente
da indústria cultural, incentivadora da repetição do mesmo pela
ilusão da novidade, provocando necessidades nos consumidores que
são as suas próprias, encenando uma realidade que se converte em
verdade e transformando a sensibilidade do indivíduo em função
das suas demandas econômicas e de dominação. A forma narrativa
desaparece ao mesmo tempo em que o conteúdo que a ela era
inerente se extingue. Como ele mesmo diz,
... noções como “sentar-se e ler um bom livro”
são arcaicas. Isso não se deve meramente à falta
de concentração dos leitores, mas sim à matéria
comunicada e à sua forma. Pois contar algo significa
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