Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 128

Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
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maio
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. 2014.
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boa intenção, esconde-se o princípio da dominação: “quando,
na fase mais recente, o gesto de condescendência desaparece
e só o ajustamento se torna visível, é então precisamente,
nesta completa ofuscação do poder, que a relação de classe
disfarçada se impõe de maneira mais implacável.” (ADORNO,
1993, p. 20).
Uma verdadeira consideração pelo sofrimento do outro
se revelaria na tentativa de entender a causa do próprio
sofrimento e não em aliviá-lo com distrações que apenas
amenizem momentaneamente sua dor, sem tirá-lo do estado de
desumanidade ao qual ele se encontra reduzido. Nas palavras
de Adorno (1993, p. 19), “é com o sofrimento dos homens que
se deve ser solitário: o menor passo no sentido de diverti-los é
um passo para enrijecer o sofrimento.” É assim que a reflexão
sobre uma vida fragmentada deve proceder: revelando que o
princípio da dominação pode ser encontrado justamente nos
atos que respeitam a circunstância de dor experimentada pelo
indivíduo, mas não o próprio sofrimento que é característico de
uma situação mais ampla da qual ele é somente uma parte.
A intransigência contra qualquer forma de bálsamo
que apaziguaria as contradições da vida contemporânea é
uma das marcas da Filosofia de Adorno. É nesse quadro que
novamente ele pode encontrar a Obra de Benjamin, retomando
a experiência em seu sentido enfático, como uma das condições
para que a subjetividade ainda apresente-se em seu conteúdo
de verdade. Esta intransigência contra a dor e o sofrimento –
mas, especialmente, contra a incapacidade de perlaboração de
ambos – aproxima-se da recusa à condescendência e à compaixão
que minora o outro, inclusive aquela impressa nas facilitações
“pedagógicas” tão comuns entre nós.
Ausência de experiência e menoridade, própria e de
outrem, compõem a semiformação. Ambas danificam a vida
subjetiva e contra elas a Educação precisa encontrar vestígios de
experiências verdadeiras. Uma delas, embora pareça evidente,
deve ser lembrada. Trata-se da experiência intelectual pactuada
não como razão instrumental e isenta de desejos, de corpo, de
reconhecimento das dores e sofrimentos, mas como razão que
se impulsa em direção ao outro não para dominá-lo, mas para
reconhecê-lo em sua inteireza e primazia (
Vorrang)
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