Experiência e vida danificada... -
Franciele Bete Petry
et al.
124
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.109-130
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
que nunca é possível satisfazer todos os desejos, o que tampouco
proporcionaria realização, pois, segundo Schopenhauer, “nenhuma
satisfação dura, ela é apenas o ponto de partida de um novo desejo.
[...] Vemos o desejo em toda parte travado, em toda parte em luta,
portanto, sempre no estado de sofrimento: não existe fim último para
o esforço, portanto, não existe medida, termo para o sofrimento.”
(SCHOPENHAUER, 2003, p. 325). Este é a essência da vida que
surge como consequência da afirmação da vontade e da qual os
indivíduos não conseguem se libertar. Ainda assim, eles tentam se
livrar do aborrecimento decorrente dessa impotência e buscam algo
com o qual possam se distrair, pois,
... uma vez assegurada a existência, não sabemos o que
fazer dela, nem em que a empregar! Então intervém a
segunda mola que nos põe em movimento, o desejo
de nos livrarmos do fardo da existência, de o tornar
insensível, “de matar o tempo”, o que quer dizer fugir do
aborrecimento. (SCHOPENHAUER, 2003, p. 328).
É justamente a passagem acima que Adorno menciona e
critica, uma vez que a própria satisfação que o indivíduo encontra
não é absoluta e o tédio aparece, assim, como resultado dessa
situação. Essa concepção, para Adorno, seria especificamente
burguesa, pois “o tédio pertence ao trabalho alienado como um
complemento, como experiência do antitético ‘tempo livre’, seja
porque este deve meramente reproduzir a força despendida, seja
porque pesa sobre ele como uma hipoteca a apropriação do trabalho
alheio. (ADORNO, 1993, p. 154). Desse modo, o tédio se mostra
indispensável para a manutenção da estrutura da sociedade, já que
ele é consequência necessária da forma de trabalho, ao mesmo
tempo em que a possibilidade de um tempo destinado às atividades
que escapem ao modelo do próprio trabalho é impedida por uma
demanda de bens culturais que não proporcionam divertimento,
mas que aparecem ao indivíduo como uma oportunidade de livrar-
se do aborrecimento. Essa dimensão funcional do tédio para a
manutenção de uma sociedade desigual é retomada por Adorno
em suas análises no referido ensaio sobre o tempo livre, no qual
estabelece íntima relação entre o tédio e a apatia política, a qual,
segundo o autor, teria origem no