Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 104

Educação, filosofia... -
Belkis S. Bandeira e Neiva A. Oliveira
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. 2014.
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que esquece esta inadequação petrifica o conceito como algo
absoluto. Na Dialética Negativa, o objeto não mais se reduz a
uma mera oposição formal ao sujeito, mas é outro, intangível
na sua não identidade e, portanto não esgotável no processo do
conhecimento.
Uma filosofia transformada, tal como propõe Adorno,
acentua o poder da teoria na forma de uma crítica e possibilita,
em última instância, a transformação concreta no plano do social,
pois esta crítica social apresenta-se como o próprio conteúdo da
filosofia, abordado nas categorias filosóficas e, neste sentido,
teoria do conhecimento e teoria da sociedade estão entrelaçadas
em seu interior. A formulação da teoria, assim, faz parte de um
processo social no mesmo movimento em que se constitui como
sua reflexão. Sua verdade, não se encontra fora do mundo, mas
em sua negatividade, compõe-se na cena da história.
A filosofia não pode mais dispor da totalidade como seu
objeto, assim como o conceito não pode reduzir a multiplicidade
do real às categorias do pensamento, mas sim manter a tensão
dialética entre o pensamento e o real, possibilitando sua permanente
reinvenção, reescrita, mobilizada pelo seu outro, ou seja, pelo que
lhe é heterogêneo.
Em última instância, o que se propõe é chegar a uma
racionalidade que deverá manter a diferença dos objetos e não cair
num conhecimento abstrato, comum ao pensamento da identidade,
mas o reconhecimento da dialética sujeito-objeto, na qual o sujeito
não subordina o objeto identificando-o com um conceito universal,
mas se entrega à natureza deste, salvando sua própria diferença,
como reconhecimento da mútua mediação entre as partes em
que o significado não foi definido de antemão, mas está aberto
no que Adorno chama de
Constelação
13
própria do objeto. Dessa
forma, abrem-se possibilidades para uma dimensão formativa do
sujeito no próprio processo do conhecimento, na medida em que
o conhecimento passa a ser entendido como uma experiência do
objeto que se realiza mediada pelo conceito.
13 Adorno apropria-se da categoria benjaminiana Constelação, central na teoria do
conhecimento elaborada no capítulo inicial de Origem do drama trágico alemão,
relacionada à doutrina das ideias; como contraponto à tendência identificatória contida no
conceito, opondo-se à ideia de verdade como sistema, própria do idealismo, em particular
ao idealismo hegeliano.
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