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Educação, filosofia... -
Belkis S. Bandeira e Neiva A. Oliveira
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v
. 9,
n
. 22,
p
.95-108
maio
/
ago
. 2014.
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pensamento e, não obstante omuro entre este e aquilo que
há para pensar, o conceito nega essa nostalgia. A filosofia
não pode nem contornar uma tal negação, nem se curvar
a ela. Nela reside o esforço de ir alémdo conceito por meio
do conceito. (ADORNO, 2009, p.21-22)
A relação da filosofia com a arte, portanto, não se realiza
pela subsunção de uma na outra, tampouco pela equivalência,
mas por uma contraposição entre ambas: a arte parece propor à
filosofia, como tarefa filosófica, a realização de sua promessa, de ir
além do conceito por meio deste, enquanto resistência à falsidade
representada pela identidade entre o conceito e o conceituado, entre
o pensamento e o que é para ser pensado, exigindo que a filosofia
não abdique de algo que a arte parece exprimir.
Assim, a contraposição entre ambas é trazida para o próprio
processo conceitual enquanto condição de sua verdade, que segundo
Adorno tem como condição primeira a necessidade de dar voz ao
sofrimento, que pesa sobre o sujeito e cuja expressão é objetivamente
mediada. “A dialética, segundo o sentido literal do termo a linguagem
enquanto
organon
do pensamento, seria a tentativa de salvar
criticamente o momento retórico: aproximar uma da outra a coisa e
a expressão, até a indiferenciação.” (ADORNO, 2009, p.55)
Adorno não abandona a teoria nem deixa de buscar uma
reconciliação entre o pensamento e o real, coerência que o conceito,
ao afirmar, bloqueia. Uma chave para percebermos a relação entre a
filosofia e a arte mostra-se na analogia entre o momento mimético
que resiste ao procedimento conceitual e o momento expressivo,
entendido como impulso dialético: se à filosofia compete a tarefa
de ir além do conceito por meio do conceito e se essa tarefa está
bloqueada pelo próprio conceito, então a crítica filosófica só pode
fazê-la à medida que defender a
mímesis
10
salvaguardando-a na
linguagem. “Seu momento expressivo integral, mimético-aconceitual,
só é objetivado por meio da apresentação – da linguagem.”(ADORNO,
2009, p.24) Na Teoria Estética (1993), Adorno diz:
de Aristóteles, mas literalmente significa Instrumento.
10 O conceito de mimesis originalmente pode ser encontrado nas obras tanto
de Platão quanto de Aristóteles, ambos viam nesta a representação da natureza. O
termo é de origem grega e significa imitação, representação. No contexto deste texto, não
pretendemos descrever de forma pormenorizada o problema, mas a este respeito referimos
as leituras de DUARTE (1993) e TIBURI (1995).